Policrise é uma expressão usada por Martin Wolf, editor do Financial Times para descrever a interdependência dos acontecimentos sociais, econômicos, políticos, sanitários e ambientais que exigem uma abordagem ampla dos desafios atuais.
Nessa perspectiva, cada crise, obedecendo ao significado etimológico da palavra, pode apontar para uma nova oportunidade. As ameaças de recessão, inflação alta, pandemias, guerras, autoritarismo e emergência climática atravessam fronteiras e correspondem a um enfrentamento cujas soluções demandam esforço solidário e visão estratégica.
Vamos nos fixar na questão ambiental com foco nas mudanças climáticas. À exceção dos negacionistas, ninguém duvida de que, mantidos os atuais padrões de produção e consumo, a catástrofe varrerá a vida no planeta terra.
O risco e a necessidade são parteiras da criação e da capacidade de inovar. Em paralelo às conferências e tratados internacionais como marcos regulatórios, o mundo real avança em busca de soluções eficazes.
Neste sentido, novos caminhos são abertos na direção do hidrogênio verde, o “combustível do futuro”. Vale dizer que a transição para a matriz energética limpa se apresenta como uma formidável transformação global e abre uma enorme janela de oportunidades.
Aí entram em cena as excepcionais vantagens competitivas do Brasil para exercer o protagonismo no novo mercado que se abre.
Diferente do hidrogênio tradicional e seus variados tons, o hidrogênio verde é produzido mediante o uso fontes de energia renovável e limpa que representa 85% da nossa matriz energética a partir de processo físico-químico denominado eletrólise. Ao que deve se somar uma expressiva capacidade de gerar empregos.
Quais as vantagens competitivas do Brasil? A primeira é a oferta crescente de energia renovável; seguem-se a existência de um sistema elétrico integrado e a proximidade dos portos de grandes consumidores.
Segundo estudos da consultoria McKinsey, as oportunidades na economia verde somam 125 bilhões de dólares até o ano de 2040, vindos das fontes renováveis de energia, dos quais o hidrogênio verde representa 20 bilhões de dólares.
Dado importante: o Nordeste representa para o Brasil o que o Brasil é para o mundo, o grande protagonista que congrega expressivos investimentos em Pecém, o mais avançado, Camaçari, o polo do Rio Grande do Norte e Suape, este último com investimentos na ordem de R$ 22,5 bilhões para 1 GW de capacidade de eletrólise, utilizando a dessalinização da água do mar (hidrogênio azul).
A face positiva da crise é um imperativo para as agendas dos governantes, empossados em janeiro, bem como, seguir à risca a lição do notável cientista e ambientalista René Dubos (1901-1982): “Pense globalmente e aja localmente”.
Gustavo Krause, ex-governador de Pernambuco