Lula e o carisma

Um homem que, quando criança, pobre e analfabeta, embarca num caminhão pau-de-arara, com sua mãe e irmãos pequenos, no Nordeste, vai bater em São Paulo, a milhares de quilômetros da partida, e torna-se Presidente da República de seu país, tem alguma coisa a mais que o chamado homem comum. O que é, não sei.

Ele não cursou faculdade nem é fluente em língua estrangeira, não pertence a academias de letras nem científicas, nunca leu Machado de Assis, Arthur Rimbaud e Balzac, mas chegou lá. O que não se pode negar é a sua inteligência privilegiada e sua habilidade política.

Penso que seu grande trunfo é o carisma. De sua figura de nordestino baixo e sem nenhum atrativo físico, emanam simpatia, simplicidade e bondade. Não emana arrogância. Antigamente julgava-se a inteligência de uma pessoa pelas notas altas que tirava nos concursos e vestibulares, principalmente em matemática e demais matérias chamadas exatas. Hoje, o QI humano é avaliado pelo grau de sociabilidade que o indivíduo tem.

Tanto que nem todo aluno laureado vence na vida. São bons na teoria e fracos na prática. Conheci muitos estudantes brilhantes do meu tempo, que não sabiam que rumo ou direção tomar diante de um problema pessoal ou de uma empresa sua onde trabalhavam na vida prática - e fracassaram.

Prestem atenção aos discursos dos políticos quando eles vão tomar posse em cargos relevantes dos ministérios, legislativos e executivos. Os planos, projetos e teorias são excelentes, mas muitos deles não são postos em prática por negligência e incompetência. Existem intelectuais cultos que nada de pessoal criam ou produzem. Há indivíduos que se dizem escritores, poetas e ensaístas que nunca escreveram um livro. Lula diz que nunca leu um livro. Imagine se tivesse lido! E fico pensando: como é que um simples e humilde operário, sem instrução formal e "de cor", chega à presidência de uma nação, depois de ter disputado e perdido três eleições e de ter sido preso por vários meses?

Algum valor esse homem tem, não podemos e nem devemos negar. Gostaria que a ciência nos desse uma resposta exata. Vamos torcer por um governo progressista, voltado para o povo, sem revanchismo, sem ódio e rancor. Importantíssimo também é voltarmos a dialogar com todos os países, independentemente de regime ideológico, mas defendendo sempre que possível a paz mundial. Não devemos nos esquecer que uma guerra nuclear, por menor e mais distante que seja, atingirá o Brasil.

Arthur Carvalho - Federação Internacional dos Jornalistas.