Consciência para o exercício da cidadania

Os problemas mais críticos de um país só são solucionados com a efetiva participação da sociedade, através da sua mobilização inteligente. A população precisa educar-se para a cidadania
EDUARDO CARVALHO
Publicado em 13/01/2023 às 0:00
"Os problemas definidos no protesto precisam ser claros. Quem tem o poder decisório para solucioná-los deve compreendê-lo". Foto: AFP


Consciência é a capacidade de vivenciar a realidade. Viver cônscio significa perceber o mundo interior e exterior, compreender as circunstâncias e decidir como responder a elas de maneira que honrem os valores que acredita e pratica, objetivos e necessidades. Quando não se age em sã consciência, decisões são baseadas por instintos que podem gerar consequências prejudiciais a si, às pessoas e organizações envolvidas no processo. A sociedade precisa de cidadãos com alto nível de consciência. Eles representam o patrimônio mais valioso para a boa cidadania.

Cidadania é o estado de espírito em ter comportamento e atitude para agir, individualmente ou em grupo, com objetivos de defesa de direitos civis, sociais, profissionais e para resolver os problemas que afetam a sociedade. É para ser praticada todos os dias em todos os lugares, legitimamente. É ação de civismo. Para o bom exercício do 'Ser cidadão', é essencial compreender o problema, suas causas, efeitos e agir conscientemente.

Os problemas mais críticos de um país só são solucionados com a efetiva participação da sociedade, através da sua mobilização inteligente. A população precisa educar-se para a cidadania. O processo educacional forma agentes e líderes transformadores e pode ocorrer nos lares, nas escolas, nas associações comunitárias e profissionais. Também através dos meios de comunicação. Fundamenta-se em três pilares: consciência cidadã, modelos e sistemas educacionais, liderança e empreendedorismo. Um povo sem formação cidadã não consegue constituir uma sociedade virtuosa, com instituições eficientes e respeitadas. Deixa-se ser mal governado e desrespeitado. Esse estado de comportamento é a causa principal de crises em muitos países.

O exercício pleno da cidadania é a única forma de combater a marcante desigualdade social e econômica das sociedades e a consequente exclusão de boa parte da população no exercício dos seus direitos e deveres. Uma cidadania ativa requer o exercício de aprender a participar, participando. É necessário que a sociedade viva um regime democrático participativo.

Democracia compreende, fundamentalmente: liberdade de expressão, direito de votar para escolher governantes e legisladores, transparência e confiabilidade do sistema eleitoral, respeito aos direitos dos cidadãos pelos representantes dos poderes executivo, legislativo e judiciário, oportunidades de participação do cidadão na vida política, econômica e cultural da sociedade.

Os direitos do cidadão estão expressos na constituição de cada país, que em regimes democráticos assegura o direito de protestar em relação a algum fato que entenda ferir os princípios constitucionais. A maioria das pessoas que protesta, não está de acordo ou satisfeita com determinada atitude, ação ou decisão de algum poder que pode ser constitucional ou empresarial. Têm motivações diversas e ocorrem de diversos modos. Para que seja respeitado o direito de "ir e vir" de quem não participa do protesto, é importante e necessário o apoio de policiais. Os atos devem ser praticados com disciplina e inteligência.

Os problemas definidos no protesto precisam ser claros. Quem tem o poder decisório para solucioná-los deve compreendê-lo e discutir alternativas que satisfaçam ambas as partes. A procrastinação de decisões agrava os ânimos dos cidadãos que protestam, podendo ter consequências indesejáveis para o bom exercício da cidadania. O autoritarismo, se praticado, pode abafar o protesto pelo uso da força do poder, mas cria traumas que comprometem a virtuosidade da sociedade. Esse sistema é caracterizado pela repressão da liberdade de expressão das pessoas. Sem liberdade não se busca a verdade, a dignidade dos cidadãos é desrespeitada, e o pleno exercício da cidadania é prejudicado.

Eduardo Carvalho, autor do livro Global Changemaker  

 

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