Quando o advogado entra numa delegacia e ouve gritos e gemidos dos presos, sabe que naquela delegacia o delegado permite ou incentiva a tortura. Antigamente havia três formas de suplício , digamos, “silenciosas”, embora terríveis : O preso tinha sempre um beleguim que se revezava no plantão para não deixá-lo dormir e ser interrogado com dois ou três dias insones ; o “tanque” que consistia em mergulhar a cabeça do infeliz na água até ele “confessar” o que fez e o que não fez, e o famigerado “pau-de-arara”.
Durante a ditadura, esses “métodos” eram tão comuns e constantes que quando um vagabundo era detido, já adentrava o “Brasil Novo” , no Edifício da Secretaria da Segurança Pública , ali na Rua Nova e ia berrando aflito: “Olha, eu não sou comunista não! Eu sou ladrão!”.
Estou relembrando isso, porque a depredação e invasão da sede dos Três Poderes, em Brasília, coisas jamais vistas em país algum, tiveram seu ou seus inspiradores, direta ou indiretamente. Cabe à Polícia apurar e ao Judiciário julgar.
Porém a cena que mais me chocou foi a das sete facadas dadas na lendária e bela tela “As Mulatas” de Di Cavalcanti. Uma torpe agressão às artes plásticas nacionais, à cultura brasileira. O indivíduo que hospeda o ódio, a violência e o rancor no coração e é incapaz de produzir uma obra de arte - um quadro ou uma escultura ; de escrever um livro; de produzir um filme ou um drama teatral, e tem a consciência de que jamais criará nada disso por incapacidade e incompetência e viverá seus últimos dias mergulhado no lodo pastoso do anonimato, não perdoa um Brecheret , um Oscar Niemeyer , um Joaquim Cardoso, um Castro Alves.
E morre raivoso , amargurado e triste, atolado no porão escuro da mediocridade , do ciúme, da inveja e do despeito. Pessoas assim nascem predispostas ao crime, já afirmavam os renomados juristas Dostoievski , Ferri e Lombroso. O grande Machado de Assis , maior escritor das Américas do século XX , segundo ensaísta americana cujo nome esqueço agora, o Velho da Montanha, conhecedor profundo da alma humana dizia: “Não é a ocasião que faz o ladrão. O ladrão já nasce feito.”
Justiça seja feita, o Brasil teve cinco generais presidentes da República durante vinte anos consecutivos. Nenhum deles cafajeste, capadócio. Nenhum declarou na televisão ou em público que dormia e acordava com certa mulher casada . Nenhum praticava fake news.
Arthur Carvalho, da Federação Internacional dos Jornalistas