Em águas quentes e calmas, uma semana de férias. Sem usar redes sociais, não tendo WhatsApp instalado no celular e desatento ao que ocorria no resto do mundo, circularam rumores a respeito da mobilização antidemocrática que estava em curso no país.
Partindo do princípio de que era fato público, a vida seguiu em calma, presumindo que certamente as autoridades estariam atentas para atuar no combate a um eventual e tão anunciado ataque à democracia.
As conversas então derivavam para tentar entender os mecanismos envolvidos no desenvolvimento de uma realidade paralela na cabeça de tanta gente inteligente e esclarecida, disseminando o radicalismo no mundo.
Se a neurociência explicaria a técnica empregada, com múltiplas mensagens enviadas via aplicativos, quase ao mesmo tempo, por um colega de infância, um superior hierárquico, uma pessoa admirada, uma celebridade, uma autoridade constituída e por todo o grupo, fazendo com que a desinformação, por mais absurda e delirante, se aloje no cérebro de forma inquestionável e irreversível, conferindo a sensação de que, em nome dessa “verdade” absoluta, tudo seria permitido.
Até ferir de morte sete vezes um Di Cavalcanti, fazer parar o tempo do relógio precioso, destruir as fotos dos ex-presidentes da República, Castelo Branco, FHC, Figueiredo, Getúlio Vargas, todos, rasgados e pisoteados, se achando no direito de causar prejuízo de milhões aos cofres públicos.[
É possível que em meio a tanta gente, impulsionados pela repetida acusação de fraude eleitoral sem provas, alguns pretendessem apenas manifestar perplexidade com a incrível história do processo de maior visibilidade do país, que depois de julgamentos, condenações e cumprimento de pena, teve que recomeçar por erro na origem!
É possível que existam inocentes que não invadiram, mas os vídeos postados pelos próprios, mostraram vândalos pretenciosos, querendo entrar para história pela porta dos fundos, se dizendo patriotas. Que não venham agora ajoelhar e rezar a Deus acima de tudo, pois esses pecados só serão pagos depois.
Antes precisarão prestar contas perante as leis dos homens. Não venham dizendo “não fui eu”, como a piada do marido flagrado em traição pela esposa e que se dirige a ela sempre negando, na esperança de plantar dúvidas sobre o que foi visto por todos.
A primeira lágrima escorreu ao ver milhares de brasileiros sendo conduzidos para o crime em procissão, alguns em orações, encontrando portas abertas para praticar a selvageria, sem topar com a turma do “alto lá”. A segunda surgiu depois, ao ouvir o grito dos poucos militares que, sob chuva de pedras e cadeiras, resistiram à invasão: “manter a linha galera, moral, fechar, sai, sai”, seguido por um palavrão bem aplicado.
Foi simbólico. Uma lágrima de emoção ruim, outra de emoção boa. Para a primeira, os rigores da lei. Que a vergonha sentida por seus filhos os ajude a melhorar. Para os guardiões da constituição e do patrimônio da nação, homenagens e promoções. Para a coragem cívica, o orgulho e exemplo para os filhos. Para os que praticaram a injustificável e inadmissível destruição, desonra, ressarcimento e cadeia. Para quem defendeu a democracia, um lugar de destaque na história.
“É prá manter a linha galera, vamos manter a linha. Sustentar e avançar. Moral pessoal, moral!”
**Uma homenagem modesta aos que cumpriram o dever com bravura