Escrever é difícil. Muito difícil. As palavras detêm uma ascendência que extrapola o pensamento e, entretanto, urge conhecê-las em profundidade para delas fazer uso apropriado. Impossível limitar o ato da criação. Necessito percorrer todos os caminhos, visando a compreender os enigmas da Letra. Receios se multiplicam à medida que o mergulho se aprofunda. Não sou capaz de abraçar certezas absolutas. Entrego-me às múltiplas perspectivas, com o intuito de abstrair o renascimento do Eu. Inventar e reinventar a vida servem de modelo ao traçado da existência. Nasço e renasço à medida da multiplicidade dos tempos. Os instantes crescem para fazer-me dinâmica. Desejo, contudo, aplaudir as renovações, assim, entrego-me ao ato do renascimento. Quão difícil traduzir a essência interior! Impossível. Melhor assim. Importa acatar as minúcias para dilatar o âmago que emerge da vida. Vou e volto numa ciranda com encantos superiores. Não traço limites para as versões que me sacodem.
Sentir é um verbo complexo, pleno de variáveis desconhecidas. Dele emanam inúmeras definições e indefinições. Que o mundo acate a multiplicidade de cada um. Os horizontes representam um máximo de interjeições. É mister reverenciar os enigmas da existência. O complexo aumenta a cada dia, assim, a vida prossegue na sua profunda indefinição. O ir e vir revelam mistérios ontológicos. Vale a pena aplaudi-los e sempre indagar a razão do porquê. Aliás, nada mais enriquecedor que a indefinição dos saberes.
Entrego-me à pequenez para crescer interiormente. O ato de inquerir constitui a grandeza de cada um. Estou sempre em uma estrada plena de caminhos. Percorrê-los com intensidade revela o máximo de respeito diante do não sabido. Caminho carregada de interjeições. Impõe-se reavaliar os mistérios; assim, a amplitude do simbólico se amplia indefinidamente. E os passos seguem em uma cadência intraduzível. A pequenez leva à grandeza. Prossigo em silêncio, mas repito com vigor o poeta. Nada como reverenciar o primor de palavras dignas. "Sim, sei bem. Que nunca serei alguém./Sei de sobra que nunca terei uma obra./Sei, enfim,/ Que nunca saberei de mim./ Sim, mas agora, /Enquanto dura esta hora/Este luar, estes ramos,/Esta paz em que estamos,/Deixem-me crer/O que nunca poderei ser." Diante de tanta beleza, não ouso dizer mais nada. Reforçarei apenas que o poder das palavras dilata a alma do ser humano.
Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras
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