"Na internet, não há ação mais urgente que educação midiática". Essa frase poderia ser da diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, mas veio essa semana de Felipe Neto, o mais importante influenciador digital do Brasil. A novidade (positiva, diga-se) não é propriamente o conteúdo da afirmação, mas o mensageiro e o alcance que ela pode ter, em função da dimensão dele no ambiente digital.
Quando o assunto é fake news, fala-se muito mais do problema do que de soluções. Com sua declaração, Felipe Neto colabora com o debate quanto à busca por saídas de modo mais amplo, para além das universidades e centros de pesquisa, de modo a envolver a sociedade, o que é fundamental. Só no seu canal de Youtube, ele possui 44,9 milhões de seguidores.
Há evidências mais do que suficientes a associar as extraordinárias transformações nos fluxos comunicacionais das últimas décadas a uma epidemia de desinformação, com impactos significativos em nível individual, coletivo e institucional. A solução para esse mal passa, necessariamente, pela educação. Os ambientes online exigem habilidades específicas de seus usuários para que eles possam controlar sua presença digital, evitar riscos e aproveitar ao máximo as oportunidades que as tecnologias e plataformas online oferecem. Portanto, as escolas e as universidades têm um papel fundamental a ser cumprido nessa arena de disputa como formadoras de agentes de transformação.
Atenta a isso, a Cátedra Luiz Beltrão de Comunicação da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) lança amanhã (24) o programa "Escolas contra a desinformação: educação midiática para todos", voltado exclusivamente para estudantes da rede pública estadual de ensino. A iniciativa foi contemplada com recursos do Edital de Projetos Brasil-EUA 2022-2023 do governo dos EUA na linha "Valores Democráticos - Inclusão Social" e é resultado de uma parceria com o Consulado Geral dos EUA no Recife e a Escola Liceu Nóbrega de Artes e Ofícios.
A programação inclui a participação como palestrante da professora e pesquisadora Panayiota Kendeou, da Universidade do Minnesota, autora do livro "Misinformation and Fake News in Education" (Desinformação e Notícias Falsas na Educação). A professora Kendeou é uma referência internacional nos estudos sobre o fenômeno da desinformação, seus efeitos, prevenção e redução de danos, a partir da interface entre comunicação, educação e psicologia. Professores e pais também vão poder acompanhar esse seminário.
Haverá duas oficinas. A primeira tem como título " O que é desinformação e como lidar com isso nas redes e mídias sociais digitais" e será ministrada pelo mestre em Indústrias Criativas pela Unicap e doutorando Bruno Gueiros. A segunda oficina, "Checagem de fatos e conteúdo de qualidade: ferramentas para combater desinformação", será realizada pela coordenadora do curso de Jornalismo da Unicap e referência em educomunicação, Andrea Trigueiro.
Esta é uma iniciativa piloto. Neste primeiro momento, as limitadíssimas vagas (150) foram rapidamente preenchidas por estudantes dos 1º, 2º e 3º anos do próprio Liceu, sinal de que há uma enorme demanda reprimida na comunidade escolar.
Mas a intenção é que essa experiência sirva como modelo de política pública capaz de ser replicada em outras unidades de ensino de Pernambuco. O objetivo é reduzir a vulnerabilidade de jovens à desinformação, por meio do desenvolvimento de competências que os tornem mais aptos a identificar e analisar criticamente conteúdos midiáticos falsos ou pouco informativos.
A aquisição e desenvolvimento de competências midiáticas e informacionais é caminho incontornável para combater a epidemia de desinformação que compromete a saúde de indivíduos, grupos e instituições democráticas. É cada vez mais evidente (e urgente), da Unesco a Felipe Neto, que desinformação se combate com educação.
Juliano Domingues, coordenador da Cátedra Luiz Beltrão de Comunicação (Unicap), é idealizador e coordenador do projeto "Escolas contra a desinformação".