Ao entardecer daquele dia 19 de abril de 1648, após renhida batalha e debaixo de forte aguaceiro, retiravam-se os batavos pelo Boqueirão em direção ao Recife onde iriam curar as feridas da inesperada derrota.
Era o início do ocaso da empreitada holandesa no Brasil iniciada quando a poderosa esquadra da Companhia das Índias Ocidentais se fez ao largo da cidade de São Salvador, em maio de 1624, para explorar o desguarnecido litoral e dele tirar proveito.
A batalha dos Guararapes, refrega da insurreição pernambucana, tornou-se marco da união de raças e gênese da nacionalidade brasileira.
Ela nos despertou, nos guiou e nos trouxe salvos até nossos dias como uma nação acima das individualidades pueris.
Lá, em 1645, um compromisso de honra foi firmado pelos líderes maiores da revolução:
"Nós abaixo assinados, nos conjuramos e prometemos, em serviço da liberdade, não faltar a todo tempo que for necessário, com toda a ajuda de fazendas e pessoas [...]".
A mitose da célula mãe do Exército Brasileiro se acelerou, se frutificou e se espalhou.
Na próxima quarta-feira, 19 de abril, em vários cantos deste imenso país continente, organizações militares e suas representações vão celebrar o Dia do Exército.
Instituído pelo General Zenildo Gonzaga de Lucena, pernambucano de São Bento do Una, antigo comandante do Exército, veio para destacar o momento em que a nação percebeu dos Montes Guararapes que dela, e apenas dela, dependia a nossa integridade e sobrevivência diante de inimigos de toda ordem.
A simbiose de índios, negros e brancos em luta contra estrangeiros ávidos por nossas riquezas, em especial pelo doce ouro da cana-de-açúcar, tão cobiçada no velho continente, deu farda, valores e tradições aos homens e mulheres em armas que hoje protegem, como em 1648, acima de seus interesses pessoais e com servidão incontida, cada um de nossos homens e mulheres do nosso país.
A história militar nos mostra que exércitos de todo mundo se renovam sobre exemplos do passado e sabem que o porvir vitorioso se elabora desde o agora.
Eis, pois, a razão para que Forças Armadas brasileiras se qualifiquem como agentes de construção do amanhã.
Construtoras de um futuro que oferece a esperança aos conjurados brasileiros - aqueles que firmam diariamente, na labuta do trabalho, a declaração de cidadania - de que a luta deste Exército é igualmente a sua luta.
Este Exército, conjurados, força vitoriosa em Guararapes, na luta pela Independência, na Guerra da Tríplice Aliança, nos campos da Itália, que se mantém apegado aos mesmos valores do Monte das Tabocas.
Confiem nele, ele não vos abandonará.
Feliz dia do seu Exército.
Otávio Santana do Rêgo Barros, general de Divisão da Reserva