A rainha das borboletas

Escrevo essas linhas em mais um momento de acrimoniosa alegria, cercado pelas borboletas reais e imaginárias que desde bem cedo encantam a pequena filha.
RONNIE PREUSS DUARTE
Publicado em 13/08/2023 às 0:00
"Os filhos não crescem: em saltam à adultidade. E tudo se passa em um átimo. E em cada fase do percurso, há deliciosas singularidades... Foto: Reprodução


A Bíblia oferece um "conselho de sabedoria": "Procure obter sabedoria; use tudo o que você possui para adquirir o entendimento"(Pv 4:7). Nessa jornada, digo eu, a paciência é virtude e o tempo, preciosa companhia.

Porque o tempo é tempero maturante: enternece os corações enrijecidos. Porque o tempo é também bálsamo: cicatriza as feridas do corpo e da alma, colecionadas pelos caminhos da vida. E esse mesmo tempo que pune, dessorando o físico, dá força ao espírito, ensinando resiliência: insistir, persistir e, nas inexorabilidades, conformar. Porque só o tempo, esse grande catedrático da escola da vida, é capaz de ensinar, pela via do arrebatamento, os tantos tesouros existenciais pelos quais passamos em absoluto menosprezo.

É assim quando larapia a saúde, evidenciando o inexcedível valor das trivialidades que passaram despercebidas, esquecidas no corriqueiro viver: respirar, ver, discernir, ouvir e sentir. É assim quando, por variados meios e em reflexão retrospectiva, percebemos a riqueza dos momentos irremediavelmente perdidos, porque roubados ou voluntariamente abdicados, geralmente numa altura em que o sentimento da juventude infinita posterga a certeza da efemeridade de tudo, especialmente da própria vida.

Mas o tempo, geralmente inclemente, consegue ser compassivo. Por vezes, dá chances e reabre caminhos quando, em seus lampejos de generosidade, oportuniza a construção de memórias de momentos não vividos, oferecendo um palco para o desfile de personagens distintas, naquele enredo que inexistiu.

Os filhos não crescem: em saltam à adultidade. E tudo se passa em um átimo. E em cada fase do percurso, há deliciosas singularidades: no tamanho do sorriso, na força do abraço, na diversão da companhia e nas programações escolhidas. Cumpre-nos degustar intensamente aqueles poucos anos nos quais podemos ocupar, de maneira saudável, a centralidade na vida dos nossos filhos

Depois, o herói perfeito da infância logo dará lugar ao pai "chato" da adolescência. Vêm os amigos(as), os namorados(as), e a partir daí ganham o mundo, reservando-nos o papel de espectadores (ou coadjuvantes) de conquistas, e de parceiros nos momentos de agonia.

Escrevo essas linhas em mais um momento de acrimoniosa alegria, cercado pelas borboletas reais e imaginárias que desde bem cedo encantam a pequena filha. Neste recomeço, em paternidade provecta, fujo dos desacertos de outrora no afã de ver eternizado cada pedacinho de felicidade que recende da presença de uma amada menina.

Ronnie Preuss Duarte, advogado e ex-presidente da OAB-PE

 

TAGS
dia dos pais filha borboleta
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory