Foram 55% dos eleitores católicos que declararam votos ao candidato Lula às vésperas do 2° turno da eleição presidencial de 2022 – Datafolha, outubro de 2022. Entre os eleitores evangélicos, o candidato do PT tinha 32% e Jair Bolsonaro, 62%. Em fevereiro de 2023, 42% dos evangélicos aprovavam o governo Lula e em agosto, 50% - Pesquisa Genial/Quaest, agosto de 2023.
Durante a campanha, as pesquisas mostraram que os evangélicos, majoritariamente, preferiam Bolsonaro. Mas isto não significa que os evangélicos são bolsonaristas. Todavia, o excelente desempenho do candidato do PL em 2022 deve-se aos evangélicos. Portanto, os evangélicos importam muito. Por que os evangélicos importam? Porque eles tem forte coesão identitária e estão em franco crescimento no Brasil. Em breve, existe a previsão de que os evangélicos alcançarão os católicos em quantidade.
São as obras de Juliano Spyer, Victor Araújo e Ricardo Mariano que me influenciaram fortemente a tentar compreender através das pesquisas qualitativas a força dos evangélicos nas eleições. Votantes evangélicos fazem parte do universo a ser pesquisado. O voto para prefeito e a avaliação dos gestores podem sofrer influência da religião. Considerando inúmeras pesquisas qualitativas, afirmo que nem sempre ocorre a relação direta entre voto para prefeito e religião evangélica. Todavia, é visível a relação, como já bem revelada por pesquisa quantitativa, entre avaliação do governo Lula e votantes evangélicos.
Os evangélicos têm agenda moral muita clara e desejos econômicos. Diante disto, o que orienta o eleitor evangélico? É óbvio que as agendas econômica e moral influenciam o eleitor, independente da religião. Contudo, a pergunta relevante é: o que mais influencia a escolha eleitoral dos votantes evangélicos: moral ou economia? Se a popularidade do governo Lula aumentou entre os evangélicos, como a pesquisa da Genial/Quaest revelou, não são só fatores morais que orientam a avaliação dos evangélicos. O bem-estar econômico importa!
Se o bem-estar econômico é relevante, a premissa de que satisfação da economia elege presidentes serve também para os votantes evangélicos. Isto é: se os eleitores evangélicos estão satisfeitos com a economia, eles tendem a votar no presidente candidato à reeleição, independente se é Lula ou outro qualquer. Se esta premissa é verdadeira, não posso afirmar que votantes evangélicos são bolsonaristas. Considero, contudo, que as pautas morais da esquerda afastaram eleitores evangélicos e os conduziram para Jair Bolsonaro.
Candidatos evangélicos que desejam ser prefeito, governador e presidente da República não podem falar, exclusivamente, para o universo evangélico. Eles precisam verbalizar para todos os eleitores, independente da religião. Obviamente que em recintos cristãos, o candidato evangélico pode expressar com forte clareza as suas opiniões sobre temas morais. Contudo, se o competidor evangélico deseja ser prefeito, ele não pode pautar o seu discurso político com temas morais. O candidato evangélico tem que apresentar propostas para os problemas da cidade.
A estratégia do competidor evangélico para os cargos de vereador e deputado não é igual para os cargos de prefeito e governador. No primeiro, o discurso exclusivo para o universo evangélico tende a trazer votos suficientes para o sucesso eleitoral. Em relação aos cargos majoritários, não. São diversas religiões que integram o eleitorado. Portanto, o discurso do candidato a prefeito realizado exclusivamente para o universo evangélico não garante votos suficientes para a vitória.
Os candidatos de outras religiões mostram, há muito tempo, que não têm receio de ir a igreja evangélica, conversar com o pastor, realizar a oração. Como outras crenças importam, os competidores evangélicos precisarão dialogar com as diversas representações do eleitorado. Ou melhor: os diversos tipos de eleitores. Este é, inclusive, o grande desafio dos candidatos evangélicos.
Discute-se, neste momento, quem deve ocupar a nova vaga de ministro do STF. Eu não teria nenhuma dificuldade em defender um nome evangélico, pois, como bem insisto neste texto, eles importam muito. Seria um forte aceno do presidente Lula ao eleitorado evangélico. Destaco, ainda, que a reeleição do atual presidente depende da conquista dos eleitores evangélicos através de incentivos econômicos e do respeito às pautas morais defendidas por eles.
Adriano Oliveira, Doutor em Ciência Política. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência – Pesquisas e Estratégias