Não realizei e nem tive acesso a nenhuma pesquisa qualitativa sobre a eleição presidencial argentina. Ela seria de muita utilidade para a minha compreensão dos desejos e sentimentos dos eleitores. Por outro lado, há muito tempo, tenho acesso à várias pesquisas de intenção de voto, as quais revelam empate técnico entre Sérgio Massa e Javier Milei. Não sou apaixonado pela intenção de voto, pois ela representa um simples retrato do momento. Ou melhor: a intenção de voto não captura satisfatoriamente a escolha presente do eleitor e nem sugere a tomada de decisão futura.
A previsão plausível para a eleição argentina é que em um país onde a inflação está descontrolada e os indicadores sociais e econômicos não são bons, o candidato apoiado pelo atual governo, Sérgio Massa, perca a eleição. Neste caso, observo o que há muito tempo a Ciência Política utiliza para explicar algumas eleições presidenciais: a economia importa para antecipar a escolha do votante. Quando a economia vai bem, o presidente é eleito ou o seu candidato vence.
Tomando como base, especificamente, o voto econômico, Javier Milei deve ser eleito presidente da Argentina. Contudo, vejo que esta minha afirmação é simplista. Tenho a hipótese de que o voto econômico está presente na eleição argentina e que ele poderá dar a vitória a Sérgio Massa. Como assim? Observo no País vizinho, o voto econômico complexo. Ou seja: parcela majoritária dos eleitores votarão em Sérgio Massa com medo do bem-estar econômico, o qual não está bom, piorar. Portanto, parte dos votantes optará por Massa para não perder benefícios que foram dados pelo governo de Alberto Fernández.
Apresento dados que corrobora com a minha hipótese. Pesquisa da Celag realizada entre 25 de outubro a 8 de novembro revela que: 1) 55,2% concordam que o objetivo de uma sociedade deve ser a justiça social para todos os seus membros. E 40,3% defendem que o objetivo da sociedade deve ser a liberdade individual de todos os seus membros; 2) 59,2% concordam que as instruções do FMI condicionam a política econômica e reforça ainda mais a crise; 3) 52,3% consideram que o dólar aumenta porque existe um grupo de especuladores que o manipula quando ocorre eleições; 4) 60% afirmam que Javier Milei é um político como qualquer outro; 5) 49,4% têm o sentimento de que Javier Milei produz mais medo; 6) 44,3% tem o sentimento que Sérgio Massa produz mais medo; 7) Para 46,7% dos votantes, Sérgio Massa é o mais preparado para governar; 8) 42,9% consideram Javier Milei como o mais preparado para governar.
Todos os 8 indicadores apresentados sugerem que Sérgio Massa vencerá a eleição presidencial. Eles permitem enxergar a dinâmica eleitoral além da intenção de voto tradicional que sugere empate técnico entre Milei e Massa. Vejo que a eleição argentina tem semelhanças com a ultima eleição presidencial brasileira no que condiz ao medo com algum candidato. Lula venceu a eleição, dentre vários fatores, porque provocou menos medo aos eleitores do que Jair Bolsonaro. No caso da Argentina, Milei provoca mais medo do que Massa, conforme já apresentado. Um dado favorável a Javier Milei: 45,9% o consideram capaz de resolver o problema dos altos preços e da inflação. E 39,7% consideram Sérgio Massa.
A opinião comum e bem presente desde o início da campanha eleitoral, é que Milei venceria a eleição por ser o candidato antissistema, assim como foi Jair Bolsonaro em 2018. Contudo, 60% afirmam que o “Bolsonaro” argentino é uma político como qualquer outro. O olhar trivial sugere, também, que o estado da economia argentina levará Massa a derrota. Os resultados do 1° turno revelam que não é bem assim, pois, como frisei, o voto econômico está presente na Argentina, mas ele é do tipo complexo, e não trivial. Até o dia 19 de novembro, data do 2° turno, a curiosidade persistirá e eventos poderão influenciar a escolha do eleitor.
* Adriano Oliveira – Cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência