OPINIÃO

O ser humano, a paz e a vida

E que Deus, na sua infinita bondade, nos traga as suas bênçãos de harmonia e paz, antes que o mundo acabe de se acabar

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ROBERTO PEREIRA

Publicado em 21/11/2023 às 0:00 | Atualizado em 21/11/2023 às 7:46
Guerras - Thiago Lucas

Leio no jornal Público, 22/10/23, de Portugal, instigante artigo sobre a paz, no qual o autor, frei Bento Domingues, registra ter havido na mesquita junto à Praça de Espanha, reunião ecumênica, agregando representantes de diversas religiões, inclusive ateus e agnósticos, algo inédito em Lisboa, para debater e interagir a uma exortação internacional, chamada de "Carta da Compaixão."

No eixo da Carta, estão os principais mandamentos da Lei de Deus, resumidos em: o de "Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo." Em outras palavras, conforme está no artigo citado, "costuma exprimir-se de forma negativa: não faças aos outros o que não desejas que outros te façam e, de forma positiva, faz aos outros o que desejarias que os outros te fizessem."

Essa Carta não almeja uma nova instituição em defesa da paz. Ao contrário, tem por objetivo a exortação da paz, de um mundo em sossego, da humanidade, por extensão, serena nos seus anseios e nas suas expectativas.

Nos seus princípios, tira o homem do centro do mundo e o coloca à disposição do outro a quem Deus mandou que amássemos como a nós mesmos. Fixa, no homem, pontos contrários ao desamor, colocando-o na prontidão da candura e da paz. Inimagináveis, os homens na crueza do mau, do destemor, da descrença e da violência.

O mundo, desde a sua criação, assiste às cenas explícitas da barbárie. Há alguns anos, cenários de guerra em tempo real. Como explicar tamanho desatino entre personagens deste planeta? Onde a inteligência e o racional no contexto dos seres humanos?

Quando jovem, gostava de repetir uma frase que, à época, muito me encantou: "Que os nossos filhos não precisem falar de paz por desconhecerem o significado da palavra guerra."

Esta uma utopia dos meus verdes anos, um sonho malogrado desde as primeiras leituras.

Hoje, nos meus vagares e nos meus esgares, repito Gandhi: "Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho."

No meu tempo de professor, reservava os cinco minutos finais para transmitir mensagens humanísticas. Falei muito sobre ética e moral, família, honradez, estudar, ler e aprender, solidariedade, fraternidade e, claro, sobre paz.

Quando me encontro com vários desses educandos, boa parte salienta o quanto aquelas culminâncias de cada aula foram úteis à formação deles. Para mim, esses depoimentos, depois de tantos anos, soam como um doce encanto!

Costumo dizer: o que realiza o professor não é a aula, é o aluno.

Hoje, estarrecidos, assistimos à malsinada prática da Cultura Bélica, da Cultura da Guerra, envolvendo a Rússia e a Ucrânia, quase tristemente incorporada à banalização, e, a mais recente, Israel e Hamas, ainda na crueza dos cenários de horror.

Como entender, no ser humano, o ser desumano! Feroz na sua gana pelo poder, nas suas ambições desenfreadas.

No artigo acima referido, frei Bento pede que se revelem os judeus que são solidários com o povo palestino e os palestinos que são solidários com o povo judeu, ao invés de robustecer o equipamento bélico, de um lado e do outro, apostando quem mata mais.

Deposita, o frei Bento, a sua profissão de fé no entendimento de estima mútua, admitindo que pode levar anos a fio, mas é o caminho certo, o rumo fecundo porque, desde logo, escolhe a Cultura da Paz, que vai gerando uma terra de convívio, uma terra santa.

A humanidade, impotente, assiste às brutalidades cometidas. Famílias, mulheres e crianças, vitimadas pela soberba das pessoas despojadas de amor ao próximo, quando não, ao desabrigo, esfomeadas, insones nos seus temores, além de aparvalhadas diante dos assombros e do medo, do horror de assistirem crianças decapitadas, mulheres fatiadas pelas lâminas cortantes do mal que assola os países em guerra.

Onde as lideranças religiosas e as instituições internacionais a quem incumbem defender e fomentar a paz? Recolhidas nas suas passividades, dir-se-á.

Aos homens de boa vontade, pedimos orações e esforços voluntários!

E que Deus, na sua infinita bondade, nos traga as suas bênçãos de harmonia e paz, antes que o mundo acabe de se acabar.

Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).

 

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