Recife e os mercados públicos: preservar para não esquecer
A capital conta com 23 equipamentos que contribuem para a perpetuação da culinária e história recifenses

Os mercados públicos do Recife pulsam vida e são essenciais para a identidade da nossa cidade. Quantas histórias e boas lembranças não temos nesses importantes equipamentos? Eles emprestam charme e revelam o caráter, hábitos e cultura da nossa gente, conferindo tradição a bairros como São José, Madalena, Boa Vista, Encruzilhada, Casa Amarela e Santo Amaro.
Além de centros gastronômicos e de cultura, os 23 mercados públicos da cidade contribuem para a perpetuação da culinária recifense e nordestina ao longo das gerações e sua expansão para todo o Brasil e o mundo, além de aquecer o setor de turismo e lazer, enriquecendo a história local e desenvolvendo ainda mais os pontos turísticos e culturais. É, portanto, imperativo discutir políticas públicas e ações efetivas para a preservação desses patrimônios.
O Mercado de São José, por exemplo, é fundamental para a identidade cultural recifense, recebendo mais de 10 mil visitantes diariamente e sendo um dos cartões postais mais conhecidos da cidade. Vendedores nas lojas revelam conhecimentos e são hábeis na contação de histórias. Recentemente, a Prefeitura do Recife anunciou um investimento de R$ 21,4 milhões para o restauro e requalificação do local. As obras já começaram.
O equipamento, construído em 1875, havia sido restaurado pela última vez em 1998, quase nove anos após um incêndio que destruiu parte do espaço considerado um patrimônio nacional. A necessidade de cuidados é urgente. Quem passa pelo local encontra estrutura enferrujada, vidraças quebradas, estandes danificados e falta sinalização.
Desde 2022, estamos à frente da Comissão Especial de Gestão dos Mercados Públicos, Feiras Livres, Centros de Comércio Popular e Ambulante do Recife, composta por sete vereadores. Assumir a presidência é uma tarefa desafiadora em busca de melhorias para a cidade. A comissão tem proposto, discutido, incentivado e, principalmente, acompanhado e fiscalizado políticas públicas para esses espaços.
Mediante diálogo e colaboração entre as secretarias da Prefeitura do Recife e os permissionários, temos identificado as necessidades e impactos da requalificação desses espaços.
Infelizmente, em setembro do ano passado, um incêndio afetou parte dos boxes do Mercado da Encruzilhada. A comissão esteve na vanguarda, ouvindo e reivindicando melhorias urgentes para reerguer o mercado. A situação levantou a necessidade de revisar todo o sistema de combate e prevenção a incêndio dos mercados e estruturar as criações de brigadas de incêndio não só no Mercado da Encruzilhada, como também nos demais.
A comissão realiza suas atividades através de reuniões, audiências públicas e visitas aos mercados públicos para compreender de perto as dificuldades e desafios enfrentados pelos permissionários. Os relatórios públicos detalham as atividades da comissão e como os diálogos e solicitações são conduzidos. A comissão está aberta a ouvir os recifenses, tanto quem frequenta quanto quem trabalha.
A essência dos mercados públicos como centros de cultura, história e tradições recifenses precisa ser mantida. Então, leitor, além do poder público, também se faça presente nesses equipamentos. Viva e celebre os espaços que são seus. Pensou em comer um bolinho de bacalhau? Vá ao Bragantino, na Encruzilhada. Quer uma boa fava? Vá na Madalena. E o que falar dos frutos do mar do Mercado do Peixe, em Brasília Teimosa?
Não podemos permitir que nossos mercados fiquem deteriorados e esquecidos. Devemos encontrar maneiras de garantir que eles continuem a contar nossa história e cultura para as gerações atuais e futuras, requalificando, valorizando e promovendo-os como destinos turísticos em nossa cidade, a fim de evitar a perda de nossa trajetória e tradição ao longo do tempo.
Professora Ana Lúcia, vereadora e presidente da Comissão Especial de Gestão dos Mercados Públicos, Feiras Livres, Centros de Comércio Popular e Ambulante do Recife