Lula distorce a história
O que o governo de Israel está fazendo na Faixa de Gaza é um crime de guerra. Nada a ver com Holocausto. Sim, trata-se de uma guerra.
O que o governo de Israel está fazendo na Faixa de Gaza é um crime de guerra. Nada a ver com Holocausto. Sim, trata-se de uma guerra. Por causa da virulência dos ataques israelenses, não se pode esquecer que, desde a Faixa de Gaza, o Hamas empreendeu um ataque ao território de Israel, com misseis jogados sobre as cidades durante semanas. Isso é guerra, ações militares convencionais e à distância para destruir cidades. Se não conseguiu mais destruição, foi graças ao sistema de defesa israelense. Mas, a intenção era provocar destruição e morte (de civis e não de soldados), até porque o objetivo do Hamas é a eliminação do Estado de Israel. Além das atrocidades cometidas com civis, assassinatos brutais de cidadãos, estupros e sequestros, o Hamas abriu uma frente de guerra contra Israel quando lançou um bombardeio em massa sobre as cidades israelenses.
A reação do Benjamin Netanyiahu ao ataque do Hamas está sendo muito desproporcional e é criminosa porque ataca, indiscriminadamente, o território de Gaza, destruindo as estruturas e matando milhares de civis, incluindo muitas crianças, e deixando o território arrasado. O que deve ser condenado como um massacre criminoso, está, contudo, muito longe de constituir uma estratégia de extermínio de um povo, como foi o Holocausto. A comparação do presidente Lula da Silva é absurda e descabida porque os nazistas implementaram uma estratégia para exterminar um povo. Se quisesse eliminar o povo palestino, Netanyahu poderia ter começado pelos milhão e meio de palestinos (17% da população total de Israel) que vivem, trabalham e até têm representação no parlamento de Israel.
Para uma comparação histórica adequada, vamos para a Alemanha nazista. No inverno de 1942, por ordem de Heinrich Himmler, dirigente da SS, o segundo escalão do governo e do partido nazistas da Alemanha se reuniu num casarão às margens do lago Wannsee, em Berlim, para definir a estratégia nazista denominada de Endlösung (solução final da questão judaica). Estimavam que os judeus eram cerca de onze milhões de pessoas na Europa e que a estratégia deveria eliminar completamente a presença desta "raça" no continente europeu. Não conseguiram, não tiveram tempo, mas mataram seis milhões de cidadãos judeus que não estavam em guerra. Caçaram judeus nas casas, nas ruas e sinagogas, jovens, criança e idosos, intelectuais, cientistas, profissionais liberais, comerciantes e operários, executando ou levando para o extermínio em campos de concentração. Não era uma guerra, era uma perseguição racista para exterminar um povo inteiro que vivia na Europa. Nada parecido com o crime de guerra de Israel, que, se merece uma comparação, melhor seria identificar as semelhanças com a invasão da Rússia à Ucrânia, bombardeando sistematicamente as cidades, destruindo hospitais e escolas e matando civis e provocando a saída em massa de ucranianos das suas cidades.
Quando compara a virulência do ataque de Israel na faixa de Gaza à perseguição racista de Hitler, Lula distorce os fatos, manipula os eventos históricos. Ao fazê-lo, ele exagera a escala do crime de guerra israelense e, por outro lado, ameniza, em muito, o terror dos nazistas no Holocausto, que foi a execução sistemática de uma estratégia de extermínio, tendo eliminado mais da metade da população de judeus da Europa.
Com a violência desta guerra, a solução política da crise Palestina que deve passar, necessariamente, pela constituição de dois Estados, fica cada vez mais distante e difícil. O governo direitista e agressivo de Israel não aceita a formação de dois Estados, tendência que ser fortaleceu depois da agressão do Hamas. E o Hamas nunca considerou a hipótese de dois Estados, tendo sempre defendido a destruição do Estado de Israel. A constituição dos dois Estados, como solução consistente do conflito, será possível apenas quando Israel afastar Netanyahu do..... e quando surgirem novas liderança políticas dos palestinos. Por isso, quem defende com convicção a solução dos dois Estados deve criticar duramente o governo criminoso de Israel, mas não pode defender o grupo o Hamas. Defender o povo palestino atacado violentamente pelo governo israelense não significa a apoiar o Hamas e sua estratégia, não menos condenável, de destruição do Estado de Israel.
Sérgio Buarque, economista