OPINIÃO

Chiquinha Gonzaga na APL

A MPB é o espelho, trágico, sentimental e romântico de nossa alma mestiça, irmã gêmea de nossa literatura, escultura e artes plásticas.

Imagem do autor
Cadastrado por

ARTHUR CARVALHO

Publicado em 17/04/2024 às 0:00 | Atualizado em 17/04/2024 às 15:12
Notícia

Houve época em que a Academia Brasileira de Letras notabilizou-se por preferir acolher em seus quadros alguns ditadores, mediocridades e alpinistas sociais a grandes escritores. Fato notório e de grande repercussão foi o de Orestes Barbosa, que, apesar de excelente poeta, teve seu nome rejeitado "por ser boêmio", mas Getúlio Vargas e outros sem nenhuma bagagem literária entraram. Isso afastou da agremiação intelectuais de valor, que, por vontade própria, evitavam passar pelo seu portão.

Seu presidente, o pernambucano Marcos Vinicius Vilaça, combateu isso, e renovou a ABL com gente nova e de real merecimento. E hoje a ABL elege Fernanda Montenegro, o compositor e cantor negro e nordestino Gilberto Gil e o filósofo indígena Ailton Krenak. Trata-se de um movimento salutar, sopro renovador na cultura pátria (gostou, Mário Hélio?).

Seria bom que a vetusta APL seguisse o salutar exemplo da ABL e sacudisse a poeira e o mofo entranhados, ano após ano, no interior de seus muros, jardins, museu, biblioteca, auditório, móveis e utensílios, franqueando-a ao público, principalmente ao público jovem, ávido de novos conhecimentos da cultura pernambucana.

Algum imortal da APL sabe quem foi Paulo Molin? Sabe quem foi Chiquinha Gonzaga, figura feminina mais importante da nossa música popular? Sabe quem foi o legendário maranhense, Catúlo da Paixão Cearense, que espantou a intelectualidade sulista com seu gênio, autor de "Luar do Sertão", em parceria com João Pernambuco? Mário de Andrade o considerava "o maior criador de imagens da poesia brasileira".

A MPB é o espelho, trágico, sentimental e romântico de nossa alma mestiça, irmã gêmea de nossa literatura, escultura e artes plásticas. Seus fundadores e principais representantes foram, entre outros, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros, Pixinguinha, Benedito Lacerda, Donga, Sinhô, Tia Ciata, Mário Reis, Ismael Silva, Ary Barroso, Noel Rosa, Lamartine Babo, Cartola, Humberto Teixeira, Zé Dantas, Luiz Gonzaga, Capiba, Antônio Maria, Fernando Lobo, Ataulfo Alves, Herivelto Martins, João de Barro, Paulinho da Viola e Dorival Caymmi. Entre os intérpretes, Orlando Silva provavelmente o maior cantor que o mundo teve, Francisco Alves, Sylvio, Caldas, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves e Cauby Peixoto. Eu nunca ouvi falar o nome de nenhum desses talentosos artistas na APL. Montaigne, Seu Lorival, morreu em 1592. Vamos do premiado poeta José Mario Rodrigues.

Arthur Carvalho, da Associação Brasileira de Imprensa - ABI.

 

Tags

Autor