Fátima Quintas
O dia começa claro com o céu brilhante em uma bela composição artística. Olho pela janela e me encanto com tudo que aprecio. Acordei, há pouco, de um sono reparador. Tenho sempre a sensação do inovar quando percebo o renascer de cada momento. Sou alguém destinada a retomar os sonhos. Estou sempre à procura de alguma coisa que se define em múltiplos momentos. Viver é entregar-se aos inícios. Hoje, de um jeito; amanhã, de outro, mas sempre um despertar que me chama a atenção. Gosto das lembranças e elas me guardam com aconchego.
Todos os dias ressurge o ato de nascer. Daí o sentimento sempre em evolução que parece dominar o íntimo. Não sei definir-me, mas, ao longo do tempo, vou me esgueirando em visões íntimas. Então, o crescimento acontece diário e múltiplo. Estarei enganada? Creio que não, ainda que cada um tenha a sua mobilidade interior. E vale a pena a busca da renovação.
Quantas diferenças a cada dia! Não busco enunciá-las; afinal, a vida se equilibra ao sabor da largueza dos anos. E a imaginação cresce em um quase desespero de intensidades. Como hei de me comportar? Não sei nem desejo as antevisões — o agora tem sabor especial. Cresço e retorno. A infância me acompanha, não adianta fingir que não. Apetece-me a sequência das horas, que acontece em uma sucessão inimaginável. Todos os dias o acordar simboliza renascer. Estarei confundindo os momentos? Afinal, cresci, e já sou outra: porém, sempre eivada de momentos do passado.
Como é bom recordar! E o prazer cresce a cada dia, como se a história se relativizasse. Tenho certezas que me seguem e dúvidas que se eternizam. Jamais desprezo os anseios, todos renovados instante a instante, em uma sequência evolutiva. Urge acreditar que os momentos se definem por uma paisagem que se renova sempre e sempre. Escrever e falar de antiguidades é tarefa difícil. Mas vale a pena porque produz um intenso volume de ricas inovações. Afinal, crescer é símbolo de renascer. As palavras me acompanham em um ritmo desorganizado. Que poderei fazer? Sou igual a todo mundo, e guardo no íntimo segredos absolutos. Vez por outra, eles surgem de repente. E o texto vai cumprindo uma missão que ignoro. Estarei hesitando diante do pensar? Todos nós somos iguais e dependemos de nossas diferenças e semelhanças.
O caminho é lento porque se repete muitas vezes. Vale a pena traçar um mapa de indagações. Saberei traduzir o inimaginável? Não, absolutamente não. Todos temos os nossos enredos e vale a pena mantê-los em sequências diversificadas. Sigo os passos, ainda que permita variadas interpretações. O contraditório também serve de alento. Afinal, ninguém determina os caminhos, todos se reproduzem na leveza da rotina. E a cada dia emerge uma paisagem inovadora. Melhor assim. Então, saberemos lidar com o heterogêneo. Afinal, pensar configura um elemento múltiplo. Melhor assim, o poeta Fernando Pessoa não se engana: “Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto”.
Fátima Quintas é da Academia Pernambucana de Letras
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