Olha para o céu, como ele está lindo! Quase sempre, mas não na noite de Israel. Aquele game alarmou o mundo, atingiu uma criança, outros foram atendidos após quedas na corrida para o bunker, alguns por crises de ansiedade. Teria sido um espetáculo bonito se fossem busca-pés na noite de São João, mas não havia forró e sim sirenes anunciando o perigo. Era a guerra, a estupidez inundando o globo de adrenalina e pavor.
Um ataque com aviso prévio, parecendo estratégia de jogo, quem sabe com propósito de mapear os locais de onde parte a defensiva, para depois atacar de verdade.
Mundo esquisito. Só na defesa contra os drones, gastaram mais de 1 bilhão de dólares. Dinheiro suficiente para ajudar países pobres, promover condições para vida digna diminuindo a imigração forçada, investir na preservação do ambiente, combater a fome, melhorar a vida na terra. Essa montanha de dinheiro foi gasta em uma só noite no jogo de ataque e defesa, sem possibilidade de alguém sair ganhando, um jogo sem graça, com estilhaços para todo lado provocando ódio entre os povos, destruindo casas de verdade, retirando as crianças das escolas e expulsando cidadãos dos seus países. Para melhor destinar o dinheiro, deveria ser suficiente pensar na desigualdade, no desespero capaz de embarcar dezenas de seres humanos sem vela ou motor, à mercê das correntes marítimas, da África até encalhar no Pará, todos mortos!
Foram cerca de 300 drones e mísseis, mas existem milhares apontados para alvos de um lado e outro. Basta multiplicar e chega-se à soma que poderia ser investida para construir um mundo melhor, mas preferem seguir ao lado da indústria bélica que alimenta os conflitos, estimula o desentendimento, investe no ego de dirigentes patológicos, indiferentes a tanta destruição provocada por seus sofisticados armamentos.
Sabe-se que os políticos e os reis são capazes de tudo para vencer eleição ou não perder o trono. A história mostra quantas vezes o objetivo de lançar ou manter um país em guerra foi esse. Misturando guerra com agenda eleitoral, com personalidades doentias, terrorismo, apimentando com interferência religiosa ou ideias supremacistas, o prognóstico é sombrio. Perde-se a razão.
Guardando as proporções, lembro a história de um candidato, defensor da família, que após identificar o sermão do padre como uma ameaça a sua pretensão eleitoral, contratou uma mulher de outra cidade para entrar na fila do confessionário e, pouco após se ajoelhar, levantar-se gritando que o padre a convidara para ir a um motel. Igreja cheia no domingo, o padre sem entender, não teve mais condições de permanecer na paróquia. O candidato defensor dos bons costumes eliminou o problema sem se importar com o tamanho da calúnia, deixando no padre somente a esperança de que o malvado, por crime tão cabeludo, até hoje esteja queimando no fogo do inferno.
É o que resta, aos que acreditam. Que os genocidas, criminosos de guerra, os que submetem seu povo à linha de frente por vaidade, ambição ou para manter-se no cargo, queimem por toda eternidade, sem direito à saidinha, sem foro privilegiado, sem perdão.
Sérgio Gondim, médico