Chico Buarque: 80 anos de vida e arte

Seu pai era paulista, seu avô pernambucano, seu bisavô mineiro, seu tataravô baiano, e seu maestro soberano foi Antônio Brasileiro. Chico Buarque de Holanda, mestre da canção, cronista, romancista, trovador e escritor de alma, chega aos 80 anos de vida.

As letras escritas por Chico nos anos de chumbo, período nefasto da história política brasileira, em que o país vivia sob a égide da ditadura militar, tiveram uma importância sociocultural fundamental. Ele cantava o utópico, sobre o amanhã livre da opressão e da falta de liberdade de expressão, e denunciava também o presente vivido de forma talentosa e metafórica.

Como escreveu o professor Gilmar Rocha (PUC-RJ), "a beleza calculada das palavras dispostas nas suas músicas, peças teatrais e romances por vezes lembra uma operação intelectual arquitetonicamente inspirada nas linhas geométricas de Niemeyer e nas bricolagens de Gaudí". Moderno, sem abandonar a tradição, Chico é um arquiteto das palavras.

Em tempos de polarização política como a que vivemos hoje na sociedade brasileira, é triste enxergar uma parcela da população em ambientes virtuais, simplesmente ignorando sua obra por considerá-lo um esquerdista ou comunista, muitas vezes disseminando fake news para difamar a imagem deste artista brasileiro.

Infelizmente, o espaço público brasileiro pós-junho de 2013 foi da decadência à barbárie sem passar pela civilidade, acerta Francisco Bosco em seu recente livro "Meia Palavra Basta".

Penso que Chico Buarque é um ativo deste país e torço para que a nova geração conheça a obra deste exímio pensador, desafio imenso em tempos de redes sociais, tablets e smartphones.

No momento em que Chico faz 80 anos, mostrando a longevidade de uma das gerações artísticas mais revolucionárias das artes, sua música firma-se como um vasto patrimônio a ser revisitado, estudado e desfrutado. Obra que nos convida a entender os dilemas sociais e as utopias de um país ainda possível.

Feliz aniversário, Chico!

Carlos Costa, economista e advogado.