OPINIÃO | Notícia

Lygia Bojunga e Pelotas

Recife é a bola da vez, entre as cidades do Planeta, a desaparecer do mapa por inundação. Quem sabe ratificando a premunição de Gregório de Matos...

Por ARTHUR CARVALHO Publicado em 19/06/2024 às 0:00 | Atualizado em 19/06/2024 às 15:24

Fui dormir ontem preocupado com Bojunga. Por quê? Porque Bojunga faz parte da pequena estante onde guardo meus livros preferidos, que não são muitos. E entre eles estão três dela, que li há tempos e que adorei: Os colegas, A bolsa amarela e Corda bamba. Agora os noticiários da TV dizem que Pelotas, terra natal da escritora, está debaixo d'água. Quem me recomendou a obra da novelista maravilhosa foi minha filha Maria Eduarda, que leu e gostou muito de O meu amigo pintor (1987).

A literatura dessa sempre jovem senhora de 91 aninhos de idade constrói uma ponte entre o mundo da infância e o adulto. Os limites entre a realidade e a imaginação também se anulam. Desde os primeiros títulos, a autora mescla os temas nobres do romance infanto-juvenil, como amizade, fidelidade e bons sentimentos, com assuntos mais dolorosos como tristeza e suicídio. Vale a pena ler essa mulher.

Quanto à calamidade do Rio Grande do Sul, que espero não a tenha vitimado, é uma tragédia anunciada, porque o dilúvio de 1941 (há 83 anos) avisou, e não foram tomadas as devidas providências e nada foi feito de concreto e positivo, conforme extensa declaração subscrita pelos maiores técnicos e autoridades no assunto. O atual prefeito de Porto Alegre, acossado pela imprensa, veio a público, com o maior cinismo, dizer que "a culpa" não é somente dele, porque o problema é antigo.

Até quando vão devastar impunemente a Floresta Amazônica e o bioma do pantanal e serrado mato-grossense com a criminosa mortandade da fauna e da flora e o incêndio criminoso dos campos pelos agropecuaristas para fazer pasto? As geleiras do Polo Norte estão despencando, matando de fome os ursos e todos os animais que moram lá e elevando o nível das águas do oceano.

Recife é a bola da vez, entre as cidades do Planeta, a desaparecer do mapa por inundação. Quem sabe ratificando a premunição e definição dada pelo primeiro poeta satírico brasileiro, Gregório de Matos, o Boca do Inferno: " Entre uma areia sáfia e alagadiça, jaz o Recife, povoação mestiça, que o belga edificou, ímpio tirano." Enquanto isso, a China, os Estados Unidos e outros países desenvolvidos e poderosos continuam poluindo o mundo com derrame de gás carbônico, suas fábricas poluentes, indústrias e veículos de toda espécie. Na década de 1940, eu tomava banho no riacho de águas doces e cristalinas de Pirangi, em Parnamirim, Rio Grande do Norte. Que cajus! Que luas cheias! Que saudade!

Arthur Carvalho , da  União Brasileira dos Escritores - UBE

 

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