OPINIÃO | Notícia

Permanentes interrogações

A vida se acumula em atividades que vão se agrupando ao longo do tempo. Tudo parece um equilíbrio ou uma oposição entre os dias

Por FÁTIMA QUINTAS Publicado em 26/06/2024 às 0:00 | Atualizado em 26/06/2024 às 15:24

Não há como definir com precisão. Afinal, não é fácil conviver com a passagem da própria existência. São tantos acontecimentos ao longo de um determinado período que a nossa pequena capacidade não permite antecipadas definições. Melhor assim. É preciso ter o máximo de intimidade com elos diários. Não adiantam os pré-julgamentos porque, na verdade, conhecemos tão pouco os arranjos humanos! Vão se acumulando ao longo das horas. Há, entretanto, uma continuidade entre os avanços e os recuos. Como é difícil formular hermenêuticas da vida! No entanto, nelas alicerçamos a existência. Os caminhos se cruzam entre o presente, o passado e o futuro. Confesso a minha impossibilidade de descrevê-los com clareza.

Há uma infinidade de adivinhações. Melhor assim. Afinal, o curso da caminhada se faz entre avanços e recuos. Somos todos minúsculos diante da incapacidade de exatas previsões. Que assim seja. Nada mais excitante que a dicotomia das incertezas. Não se prevê o trajeto das possibilidades, ainda que o pensamento busque uma determinada caminhada. De um lado para o outro, tudo acontece e nada garante adivinhações acertadas. Afinal, a pequenez do Eu eleva a alma a patamares imprevistos. É difícil escrever sobre o tema. Confesso que estou emaranhada diante dos próprios desacertos. Será que sou capaz de decifrar alguma coisa para além do hoje? Creio que não. Entretanto, os projetos se acumulam e detêm uma grande valia. Urge abraçá-los com prazer. Cada instante possui a sua interpretação. Nada é estático, e a caminhada ganha luzes brilhantes. São tantos os devaneios que vale a pena exercitá-los com o máximo prazer: o hoje, o ontem, o amanhã. Uma complexa tríade de interjeições, dúvidas e mistérios.

A incoerência humana atravessa indescritíveis sinfonias. Melhor assim. A capacidade de mudanças varia na intimidade. As aspirações se acumulam à luz de intensas polaridades. Sem etapas pré-definidas tudo pode acontecer. E algumas vezes conectadas com perfeição. Outras, não. Impossível traçar os caminhos antecipadamente. As previsões existem, nem sempre fielmente executadas. Múltiplas travessias surgem simultaneamente. Jamais tive certezas e a cada dia diminuem mais e mais. Estarei enganada? Creio que não. Que as horas se somem em um cenário humano.

Somos vulneráveis e, à medida que a cronologia aumenta, avançam as possibilidades mutáveis. A fragilidade ganha uma enorme dimensão. Não adianta inverter os papéis. Há, sim, inúmeras causas que desconhecemos. São tantas as incógnitas que urge aceitar a vulnerabilidade do universo. Não adianta insistir no tema. É por demais complexo para abraçá-lo. Ontem, de um jeito; amanhã, de outro. Os ajustes acontecem alheios à nossa vontade. Melhor caminhar nos segredos ocultos. Estes, sim, respondem às vulneráveis perguntas.

Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras

 

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