Permanentes interrogações
A vida se acumula em atividades que vão se agrupando ao longo do tempo. Tudo parece um equilíbrio ou uma oposição entre os dias

Não há como definir com precisão. Afinal, não é fácil conviver com a passagem da própria existência. São tantos acontecimentos ao longo de um determinado período que a nossa pequena capacidade não permite antecipadas definições. Melhor assim. É preciso ter o máximo de intimidade com elos diários. Não adiantam os pré-julgamentos porque, na verdade, conhecemos tão pouco os arranjos humanos! Vão se acumulando ao longo das horas. Há, entretanto, uma continuidade entre os avanços e os recuos. Como é difícil formular hermenêuticas da vida! No entanto, nelas alicerçamos a existência. Os caminhos se cruzam entre o presente, o passado e o futuro. Confesso a minha impossibilidade de descrevê-los com clareza.
Há uma infinidade de adivinhações. Melhor assim. Afinal, o curso da caminhada se faz entre avanços e recuos. Somos todos minúsculos diante da incapacidade de exatas previsões. Que assim seja. Nada mais excitante que a dicotomia das incertezas. Não se prevê o trajeto das possibilidades, ainda que o pensamento busque uma determinada caminhada. De um lado para o outro, tudo acontece e nada garante adivinhações acertadas. Afinal, a pequenez do Eu eleva a alma a patamares imprevistos. É difícil escrever sobre o tema. Confesso que estou emaranhada diante dos próprios desacertos. Será que sou capaz de decifrar alguma coisa para além do hoje? Creio que não. Entretanto, os projetos se acumulam e detêm uma grande valia. Urge abraçá-los com prazer. Cada instante possui a sua interpretação. Nada é estático, e a caminhada ganha luzes brilhantes. São tantos os devaneios que vale a pena exercitá-los com o máximo prazer: o hoje, o ontem, o amanhã. Uma complexa tríade de interjeições, dúvidas e mistérios.
A incoerência humana atravessa indescritíveis sinfonias. Melhor assim. A capacidade de mudanças varia na intimidade. As aspirações se acumulam à luz de intensas polaridades. Sem etapas pré-definidas tudo pode acontecer. E algumas vezes conectadas com perfeição. Outras, não. Impossível traçar os caminhos antecipadamente. As previsões existem, nem sempre fielmente executadas. Múltiplas travessias surgem simultaneamente. Jamais tive certezas e a cada dia diminuem mais e mais. Estarei enganada? Creio que não. Que as horas se somem em um cenário humano.
Somos vulneráveis e, à medida que a cronologia aumenta, avançam as possibilidades mutáveis. A fragilidade ganha uma enorme dimensão. Não adianta inverter os papéis. Há, sim, inúmeras causas que desconhecemos. São tantas as incógnitas que urge aceitar a vulnerabilidade do universo. Não adianta insistir no tema. É por demais complexo para abraçá-lo. Ontem, de um jeito; amanhã, de outro. Os ajustes acontecem alheios à nossa vontade. Melhor caminhar nos segredos ocultos. Estes, sim, respondem às vulneráveis perguntas.
Fátima Quintas, da Academia Pernambucana de Letras