Depois dessa vacina ganhei um neto

Os vacinados e não vacinados estão expostos às doenças que sempre existiram ameaçando a existência humana

Publicado em 01/08/2024 às 16:34 | Atualizado em 01/08/2024 às 16:34

Doutor, eu nunca tinha tido Dengue, agora tive. Será que esse excesso de vacinas distraiu meu sistema imunológico?

Doutor, eu não acredito nessa história de implantar um chip com uma vacina, mas vou lhe dizer, minha mãe tem 91 anos, nunca havia caído e dois meses depois de tomar essa vacina quebrou o fêmur.

Doutor, muita gente tem sofrido tromboses depois de vacinado.

Continuaram as suposições mesmo com o mundo todo sabendo que foi a infecção pelo Sars Cov2 que aumentou em mais de 200% o risco de tromboses e mortes súbitas, quando ainda não existia vacina.

Quanto mais grave a virose, maior a possibilidade de infarto, AVC, embolias e o D-dimero passou a ser um exame rotineiro naquela fase da pandemia, sinalizando a ativação da coagulação.

Depois que a vacina chegou, observou-se diminuição das tromboses em paralelo à diminuição da gravidade da doença, mas como a vacina não foi capaz de eliminar totalmente a infecção e consequentemente também não os casos de trombose, muita gente foi induzida a pensar que a vacina seria responsável pelo problema causado pelo vírus.

Que o leigo, informado em seus grupos de forma simplista e distorcida, pense assim, é compreensível, mas seria esperado que formadores de opinião inclusive da área médica, ajudassem a corrigir os conceitos equivocados.

A distorção da realidade também ocorreu em relação à outras doenças: com pancreatite diziam: “estamos vendo muitos casos depois da vacina”, esquecendo os litros de bebida alcoólica consumidos a mais durante o isolamento.

Com diverticulite: “nunca tinha acontecido antes da vacina”, esquecendo quantos portadores de doença diverticular desenvolvem essa complicação a cada ano. Com câncer salientam que “apareceu depois da vacina”, verdade, mas sem nenhuma relação para merecer o comentário e esquecendo que depois de 3 anos sem ir ao médico, naturalmente havia um número de casos reprimidos.

Os vacinados e não vacinados estão expostos às doenças que sempre existiram ameaçando a existência humana e não é uma simplória presunção que define a relação de causa e efeito.

As muitas tentativas para produção de vacinas contra a COVID foram aceleradas pela urgência da situação. Existem alguns efeitos colaterais, um deles é a rara VITT (trombocitopenia trombótica induzida pela vacina, no caso AstraZeneca, hoje um capítulo nos livros de medicina).

Trata-se de um problema raro que também ocorre com o uso de heparina, droga descoberta em 1916, usada clinicamente de 1930 até hoje, porque salva muito mais vidas. A heparina tem sido substituída por medicamentos mais seguros, assim como foi feito com aquela vacina específica.

Um dos medicamentos que mais vidas salvou na história da medicina foi a penicilina e continua em uso, apesar da possibilidade de choque anafilático.

Por mais que tenha sido auditada, não foi demonstrado comprometimento da efetividade da vacina, muito ao contrário, mas como resultado da desinformação surgiu o questionamento geral sobre vacinas, mesmo as de uso estabelecido como hepatite, influenza, HPV, paralisia infantil, coqueluche que passaram a ser menos procuradas com graves riscos à saúde individual e coletiva.

Que leigos estejam confusos é compreensível, mas os profissionais de saúde com acesso à literatura médica, agora com mais calma e tempo, têm possibilidade de esclarecer as dúvidas com estatísticas consistentes.

Quando ouvi alguém culpar a vacina porque semanas depois de ser vacinado sofreu uma apendicite, respondi que tive melhor sorte. Depois da vacina ganhei um neto!

Sérgio Gondim, médico

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