Histórias com Eduardo Campos
Fui testemunha de muitos fatos com Eduardo Campos. Algumas dessas históricas, caro leitor, compartilho com você hoje nesta edição do JC.....

Nesta semana quando transcorre os 10 anos da morte de Eduardo Campos, vou relembrar episódios em que tive relação direta com o saudoso ex-governador. Foi uma amizade de muitos anos, que começou quando ele, muito jovem, era o chefe de gabinete do avô, Miguel Arraes. Na época, eu era funcionários do Brasil e ele me ajudou algumas vezes a agendar encontros de Arraes com presidentes do Banco do Brasil, que visitavam o Recife. Eu tinha uma boa relação também com o escritor Maximiano Campos, pai de Eduardo, que era o secretário de Turismo, Cultura e Esportes.
NA FILA: Eduardo e foi ao lançamento de várias edições do meu livro "Sociedade Pernambucana" e, mesmo como governador não aceitava atendimento especial e ficava na fila para recebe o autógrafo., muito festejado pelos outros convidados. Em várias edições, assinou o prefácio. Numa das festas de lançamento, deu depoimento revelando que falava muito comigo, mas eu sempre queria noticias sobre o turismo, nunca pedia nada. Cometeu um engano: pedi duas coisas a ele: a primeira era para me levar para assistir ao espetáculo da Parintins. Amigo do governador do Amazonas, confirmou a viagem. Uma semana antes, houve um problema no estado, a viagem teve que ser cancelada. Ele sempre lembrava e prometia "Quando eu for presidente a gente vai no "Aerolula", o avião da Presidência da República, para Parintins."
NA EMBRAER: Outro pedido foi para conhecer a Embraer, quando ele era ministro da Ciência e Tecnologia. Em uma semana ele organizou uma viagem para São Miguel dos Campos, sede da empresa. Ligou para mim e marcou a data da viagem. Tive a oportunidade de conhecer a fábrica de aviões brasileiras No jatinho ia Abdelaziz Buteflika, presidente da Argélia em visita ao Brasil e que desejava comprar aviões da Embraer. E mais Marcos Loreto Ranilson Ramos e Ricardo Leitão, que eram assessores dele e seu tio Augusto Arraes. Foi uma visita fantástica, pois como ministro pode visitar vários setores da empresa, incluindo algumas salas consideradas secretas, que pouca gente, além dos funcionários da empresa, podia entrar. Pena que meu crachá, como "Assessor especial do Ministério" tenha ficado na saída, para ele lembrar que durante algumas horas fui assessor do ministério.
OS CADERNOS: Gostava muito de ouvir quando eu contava esta história: assim que assumiu o governo do estado, encapando os cadernos dos filhos, hábito que era muito comum. Seu lado pai sempre foi muito forte: ele fazia questão de conseguir tempo para participar de eventos nas escolas dos filhos, especialmente o Dia dos Pais.
AÉCIO NEVES: Ele costumava reunir os jornalistas para confraternização de final de ano nos jardins do palácio. Numa delas, cheguei mais cedo, ele soube e me chamou para seu gabinete. Fui testemunha de uma conversa muito dura dele com Aécio Neves, que era o governador de Minas Gerais, reclamando muito por Eduardo ter conseguido trazer a fábrica da Fiat para Goiana, frustrando o projeto de ampliação da fábrica da empresa em Betim.
BRONCAS: Eduardo me convidou para assistir a uma das reuniões com os secretários, que aconteciam na Secretaria de Planejamento, na Rua da Aurora. Vi um lado que não conhecia dele, fazendo cobranças, algumas duríssimas, a secretários e auxiliares do primeiro escalão. Depois, perguntei porque tinha me deixado ficar na reunião e ele respondeu: "Deixei porque eu lhe conheço e sei da sua correção e que não daria nada sobre a reunião. Realmente não dei qualquer notícia sobre a reunião.
PANORÂMICO: Ele me convidou para ir com ele para o lançamento da "Noar", empresa aérea que se instalava no Recife, Foi um café da manhã no hangar da companhia no Aeroporto dos Guararapes. Falaram que haveria um voo panorâmico e ele, ao meu lado, disse "Não vou de jeito nenhum". Mas Vicente Jorge, presidente da empresa, insistiu tanto, que teve que aceitar e disse, "você também vai". Não pude escapar. O voo, que foi até Itamaracá, foi tranquilo. Na volta quem brincou fui eu. Eduardo perguntou porque eu não queria ir. Minha resposta: o problema, governador, era se o avião caísse, a manchete dos jornais seria "Governador morreu em desastre aéreo", com foto e tudo. Para mim sobraria apenas uma fotinha num canto da página, com a informação: jornalista também estava na aeronave. O avião era um bimotor L410 da empresa produzido pela fabricante de aeronave LET, da República Tcheca. O mesmo avião caiu no dia 13 de julho de 2011, num terreno em Piedade, matando os 2 tripulantes e os 14 passageiros.
NO HOSPITAL: Quando tive, há 14 anos um problema coronário e teria que fazer uma cirurgia, ele soube mandou um auxiliar me procurar no Hospital Português, revelando que se eu tivesse que ir para São Paulo colocaria um avião à disposição, um gesto que emocionou na cama do hospital, mas era muito dele, a solidariedade com os amigos. Na primeira visita que me fez depois da cirurgia, brincou: "Eu ira lhe ajudar até como enfermeiro.". Era das suas características, estar ao lado dos amigos especialmente nos momentos difíceis.
ROSSI: Certa noite fui participar de um evento do governo do estado na Torre Malakoff e ele, como sempre fazia, mandou me chamar para fica junto dele. Na conversa, revelei a situação muito séria de Reginaldo Rossi, hospitalizado no Santa Joana. Ele ouviu, no dia seguinte, logo cedo, fui visitar o cantor de quem era amigo e que morreu no mesmo dia. Foi a derradeira visita que Rossi recebeu.
EM CARUARU: Quando Dilma Rousseff, como presidente foi para o São João de Caruaru, me convidou para ir na van com a presidente. Foi quando ouvi uma história curiosa. Dilma olhou para José Múcio Monteiro e brincou: "Já sei porque você faz tanto sucesso em Brasília. Sempre sai com Cadoca Pereira e Sílvio Costa, muito longe da sua beleza...."
RENATA: Nos principais eventos, fazia questão de ter Renata ao seu lado. Muitas vezes, foi visto conversando com ele. Brincava: "Ela é minha principal consultora, sabe mais do que eu."
CONVERSAS: Eduardo herdou um hábito do avô Miguel Arraes. No final do expedientes ia para a varanda do Campo das Princesas, conversar com alguns amigos, secretários ou não. Com direito a doses de uísque e salgadinhos, que mandava preparar. Muitas vezes o papo entrava pela madrugada. Como dormia normalmente pouco, no dia seguinte estava no seu gabinete muito cedo.
PAULINHO: Muitas vezes, me telefonava, sempre muito cedo, para pedir alguma informação sobre turismo, mas sempre, dava uma notícia importante, que virava destaque na minha coluna. Dois dias antes da oficialização do nome de Paulo Câmara como candidato a governador, me disse: "Você ainda não pode divulgar, mas estou pensando muito em indicar o nome de Paulinho, como ele sempre chamava Paulo Câmara.
NO JATINHO: Quando fez a campanha para presidente me convidou para dois eventos de campanha, em Salvador e Fortaleza, viagens vapt-vupt, ida e volta no mesmo dia, quando vi a forma positiva como era recebido e fazia sucesso com seus discursos. Numa dessas viagens brinquei; "Governador, seu avião tem a sigla AFA, que quer dizer Associação de Futebol da Argentina. Ele riu e disse: vou mandar mudar para AFB; Associação de Futebol do Brasil". Foi o jatinho do acidente que tirou sua vida. Também convidou para alguns eventos que fazia no interior, quando não escondia a felicidade de estar perto do povo.
O DÓLAR: Numa das festas juninas na Fazenda Macambira, em Caruaru, de João Lyra Neto, que era seu vice-governador, me deu um conselho: "Como você viaja muito deve ter cuidado, pois o dólar vai subir muito. Comprei alguns e logo vi que ele, muito bem informado, esta certo: logo a cotação do dólar subiu muito.
NO CASAMENTO: Um dos nossos derradeiros encontros foi numa casa de recepções de Aldeia. No casamento de Cecilia Ramos, que trabalhava na equipe da minha coluna, com Carlos Percol, seu assessor de imprensa, que também morreu no acidente em Santos. Ri, quando ele brincou com Roberto Tavares, presidente da Compesa; "Agora que deixei o governo, vou poder reclamar nas emissoras de rádio da falta de água."
CIDADANIA: Um programa de sucesso que implantou no seu governo e que existe até hoje, foi o "PE Conduz", que leva pessoas carentes, crianças especialmente, para consultas médicas. Ele me contou como teve a inspiração do projeto. Durante um período, fez fisioterapia no Hospital da Restauração. Foi quando viu a dificuldade de pessoas pobres, de levar os filhos para o tratamento, especialmente os moradores de locais de difícil acesso. Ele tinha muito orgulho do programa, que existe até hoje.
NO EXTERIOR: Outro projeto que gostava muito era o "Ganhe o Mundo", que possibilita jovens carentes de todo o estado de passar uma temporada estudando no exterior. Sempre falava de como a viagem melhorava a vida de todos eles. Sempre que a agenda permitia ia ao aeroporto prestigiar a saída ou volta dos estudantes.
CORRIDA: Eduardo Campos costumava ir correndo da sua casa, em Dois Irmãos para o Palácio do Campo das Princesas. Lá tomava banho, vestia o terno e ia trabalha. Em alguns casos, secretários tentaram acompanhá-lo, mas quase todo, como ele me contou rindo, paravam na Praça de Casa Forte e pegavam um táxi para o Palácio. Claro, chegavam mais cedo.
O COZIDO: A reconciliação de Eduardo Campos e Jarbas Vasconcelos foi selada num cozido preparado por Jarbas na sua casa do Janga. Eduardo e Renata foram até a cozinha ver a preparação do prato e ficaram mais de cinco horas, num clima de confraternização. Eduardo brincou que queria entrar no "Turma do Cozido", que reunia amigos de Jarbas que sempre participavam do cozido, que ele preparava quase toda semana.
A CARTEIRA: Mesmo sabendo que teria carros à disposição, Eduardo Campos fez questão de ir, pessoalmente ao Detran,, fazer exames para renovar sua carteira de motorista, assim que assumiu o cargo.
NO MUNICIPAL: Gostava de shows, ia constantemente ao Teatro Guararapes, com Renata, assistir a shows. E recordo de alguns que fui convidado por ele, como o "São João da Capitá", na área externa do Centro de Convenções. E em festas de carnaval que a Empetur realizava na Torre Malakoff. Nos Bailes Municipais, costumava reunir familiares e amigos, para uma preparação para a festa, no Campo das Princesas, antes de irem para irem juntos para o Classic Hall. Ele, Renata e os filhos sempre usavam roupas iguais.
DESPEDIDA: Minha derradeira conversa com Eduardo foi dois ou três dias antes da sua morte. Ele que sempre me ligava para falar da campanha, disse que ia participa de entrevista com William Bonner, Jornal Nacional": "Você vai ver que vou arrasar, brincou.. mas antecipando o sucesso. E arrasou mesmo, com a frase que ficou famosa "Não vou desistir do Brasil."
ESPECIAL: Muitas destas histórias - e foram muitas outras- mostram que Eduardo Campos foi uma figura muito especial. Em todos os sentidos.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1