Qual a influência do bolsonarismo na eleição municipal?
Os candidatos que apostaram na bolsonarização da disputa, estão hoje tendo um choque de realidade. Eles não lideram a disputa em diversas cidades
A cabeça do eleitor não é simples. São diversas as pesquisas quantitativas que perguntam se o votante vota em alguém apoiado por Bolsonaro ou Lula. Geralmente, o apoio do ex-presidente da República traz maior rejeição. Ou seja: são mais eleitores que rejeitam um candidato apoiado por Bolsonaro. A outra pergunta é sobre os apoios. Neste caso, o competidor é associado ao ex-mandatário da República ou o atual.
Ambas as perguntas têm a sua validade. Todavia, não explicam tudo. A pergunta principal é: Com qual frase a seguir, você mais concorda? A) Não voto num candidato a prefeito apoiado por Jair Bolsonaro; B) Não voto num candidato a prefeito apoiado pelo presidente Lula; C) Nem Lula e nem Bolsonaro influenciam o meu voto para prefeito da minha cidade. Essa pergunta é fundamental e esclarece as outras apresentadas. Em todas as pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência, a letra C tem maior concordância. Conclusão: a eleição municipal é municipalizada. Ela não é nacionalizada.
Os candidatos que apostaram na bolsonarização da disputa, estão hoje tendo um choque de realidade. Eles não lideram a disputa em diversas cidades. Ou adquiriram forte rejeição. E aqui está um ponto importante: o bolsonarismo provoca mais rejeição do que o lulismo, em particular em cidades do Nordeste. Importante salientar que prefeitos bem avaliados, geralmente com aprovação superior a 50%, não sofrem forte influência negativa do bolsonarismo ou do lulismo. O que importa para o eleitor é a avaliação da gestão. E mais: prefeitos não bolsonaristas com alta aprovação sufocam o bolsonarismo. Neste caso, o candidato bolsonarista tende a ter um desempenho pífio na disputa.
O prefeito do Recife, João Campos (PSB), tem aprovação de 73% e lidera com 74% de intenções de votos. Gilson Machado (PL), candidato bolsonarista, tem 9% de intenções de votos e rejeição de 39% - Pesquisa Datafolha, 09/09/2024. Observem, portanto, que a aprovação de João Campos impede um melhor desempenho do candidato do PL. E o bolsonarismo leva rejeição a Gilson Machado.
No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) lidera com 59% de intenções de votos. Seguido por Alexandre Ramagem (PL), com 11%. Ramagem é o candidato bolsonarista. 50% é a aprovação da gestão de Eduardo Paes – Datafolha, 09/09/2024. Mais uma vez, observem que a boa aprovação do prefeito sufoca o bolsonarismo. E apesar de Bolsonaro ter expressiva liderança na capital fluminense, o seu candidato perderá a eleição.
O prefeito de São Paulo (MDB), Ricardo Nunes, lidera com 27% de intenções de votos. Em seguida, estão Guilherme Boulos, 25%; e Marçal, 19% - Datafolha, 12/09/2024. Até o instante, Jair Bolsonaro não entrou na campanha do candidato do MDB. Portanto, Nunes cresceu sem precisar do bolsonarismo. Há muito tempo, friso que Nunes não precisa de Jair Bolsonaro para vencer a eleição em São Paulo. Ao contrário, a entrada do bolsonarismo na campanha de Nunes cria condições favoráveis para Boulos vencer a eleição no segundo turno.
Pois bem! Conclusões importantes: 1) A eleição municipal segue sendo municipalizada; 2) O bolsonarismo, em especial, no Nordeste, provoca forte rejeição; 3) Prefeitos bolsonaristas ou do PL bem avaliados e que não tragam Bolsonaro exageradamente para a campanha tendem a ser reeleitos; 4) Utilizar Bolsonaro para provocar rejeição em candidatos é estratégia válida, mas secundária.
Adriano Oliveira – Cientista Político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência