OPINIÃO | Notícia

Museus, cultura e turismo

Os museus guardam a memória histórica da comunidade onde se encontra inserido. É preciso encontrar caminhos entre a cultura e o turismo...

Por ROBERTO PEREIRA Publicado em 23/10/2024 às 0:00 | Atualizado em 23/10/2024 às 16:33

Admirável espanto sabermos que o Georges Pompidou vem recebendo, em média, oito milhões de visitantes/ano. Trata-se de um complexo cultural que abriga museu, biblioteca, teatros, um verdadeiro deslumbre!

Afinal, o que é um museu? Recorro ao Conselho Internacional de Museus (Icom): "É uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e expõe testemunhos materiais do homem e de seu meio, para fins de estudo, educação e lazer."

O sistema Brasileiro de Museus (SBM), guardião da memória nacional, está focado na conscientização da importância e do papel social dos acervos museológicos sempre à disposição da comunidade em que se situam. Incumbe, assim, aos museus, a responsabilidade de manter viva a cultura do país, ensejando a utilização dos acervos como instrumento de produção do conhecimento.

No museu de Arte Sacra de Pernambuco (Masp), em 1984, Gilberto Freyre, palestrando sobre o tema Cultura e Museus, professou: "O museu é, no Ocidente, cada dia menos necrófilo e mais vivente e convivente com os visitantes".

No Brasil, o fazer cultural e o turístico são ainda tidos como dois universos paralelos, já que as pessoas e entidades ligadas à cultura costumam preterir a colimação da cultura e da economia, como se estas desenhassem, entre si, cenários estranhos.

O normal ainda é o reino da preservação patrimonial, notadamente os museus, sempre serem concebidos como um dever do Estado. E o turismo? Este, ao contrário, como inerente às iniciativas do setor privado. Os museus tinham por hábito receber bem os estudantes, desdenhando um pouco dos turistas quando das visitas aos seus espaços.

Contemporaneamente, os museus focam as suas ações num contingente que vem ganhando volume: os turistas. Já existem estratégias de atividades para estes, cujo nicho a museologia já entende como o viés mais curto à ligação dos museus à economia. Todavia, no Brasil, esse processo ainda é lento e tímido, mesmo que gradual.

Em 1997, em visita à França, constatei, segundo o Muséostat, o fato de que os 1.200 museus franceses acolhiam, anualmente, 65 milhões de visitantes, dos quais 22 milhões eram turistas de outros países. Depois, já em 2018, lendo la Frances des musées, anotei que o museu mais visitado da França é o Louvre, à época com 3,5 milhões de pessoas/ano, em segunda posição o de Versalhes, com 2,7 milhões de visitantes, e, com 2,3 milhões, o Museu d'Orsay. Dados, aliás, já esperados.

A Espanha, os EUA e a França já trabalham, há anos, os museus como fonte de atração aos turistas. Entretanto, quando se trata de América Latina, esse debate é mais recente e ainda incipiente quando o foco é associar cultura à economia. Relacionar principalmente a museologia ao turismo - esta uma atividade promissora.

Que os museólogos se entendam com os profissionais do turismo, para encontrar caminhos ao enlace aqui sugerido de tal modo que o patrimônio e a comunidade sejam respeitados, e os turistas atendidos nas suas expectativas. Este, um desafio passível de ser vencido se nos louvarmos em experiências vitoriosas em países da Europa e dos EUA.

No Brasil, temos também casos de sucesso. Para citar um, basta que lembremos, no Piauí, na região da Serra da Capivara, Patrimônio Cultural da Humanidade, conforme outorga da Unesco, a fundação Museu do Homem Americano em São Raimundo Nonato, entidade dirigida pela admirável Niéde Guidon, e que agrega a arqueologia, o artesanato em cerâmica, o museu de sítio, este com mais de 400 sítios com jazidas arqueológicas, além do museu a céu aberto, esse complexo gerando 14 circuitos turísticos.

Os museus guardam, nos seus acervos, a memória histórica da comunidade onde se encontra inserido. Chamo Cazuza, que sintetiza bem a incumbência de um museu, quando diz:

"Eu vejo o futuro repetir o passado;

Eu vejo um museu de grandes novidades.

O tempo não para."

Avulta, aqui, o Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), sob a égide de Rinaldo Carvalho, um museu educativo, mas nem por isso longe de se adequar à realidade dos tempos atuais. Bravo!

Roberto Pereira, ex-ecretário de Educação e Cultura do Estado e é membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.

 

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