O que afinal é renovar na Política?
Qual caminho trilhar para de fato renovar? Eis a pergunta que só cada um pode responder. Que o faça, acima de tudo, sabiamente....
Dizem que o papel aceita tudo. Daí a ficção. Quando se clama, no papel, pela renovação de uma instituição, não se nega essa máxima. Afinal, renovar é aperfeiçoar, é esmerar. Mas, quando se fixa o pensamento na seara da Política, com suas crises de representatividade cíclicas, se compreende que renovar implica entender que é preciso também suplantar a alternância de poder para consolidar uma reciclagem ética.
Segundo Neruda: "Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro das consequências". Bem podia tão bela frase ser impressa e afixada em toda cabine de votação, em qualquer processo eletivo do mundo, sobretudo por (e com) força de lei, mediante Resolução do TSE. Enquanto assim não acontece, persevera-se.
A advocacia, sacerdócio constitucional, não havendo nenhum outro artigo na Carta Magna igual ao 133, longe do estigma de elite ou casta, por ser trincheira de resistência, não pode ter em sua liderança qualquer perfil de candidatura. Os advogados, nunca demais rememorar, são os primeiros a sofrer as críticas pelas mazelas da justiça e a
somatizar a ira das ditaduras. Advocacia é espécie forjada no aço da resiliência. Verga, mas não se parte. É a profissão das esperanças, como definiu Raul Haidar, e não uma consciência que se aluga, como preferiu Dostoiévski. Não é, enfim, grêmio recreativo.
Quando de sua posse na Presidência Nacional da OAB, afirmou o atual batonier Beto Simonetti: "Advogar é tributar a própria vida ao cuidado do semelhante. Advogar é desafio para quem não se acovarda, nem abaixa a cabeça frente a injúrias, ameaças e intimidações". Com total razão, o Presidente Simonetti soube enxergar que liderar um
imenso conjunto de pessoas assim não é fácil. O edital de inscrição impõe vocação. Ela é o princípio-continente da descrição do emprego.
Por isso as eleições para a Ordem, sempre que se fala em renovar, precisam dialogar com os incisos I e II do artigo 44 da Lei 8.906/94 e demais normativos, incluso o Código de Ética (2015). Não merecem se perder em campanhas agressivas e de cifras, não raro, milionárias. Em uma Nação carente de vitamina J (justiça) quanto a nossa, a representação da classe dos advogados há de ser tão criteriosamente definida quanto às dos mais altos tribunais.
Em 15/4, pontuou o Correio Braziliense: "O voto consciente, feito com o conhecimento da trajetória e das propostas dos candidatos, é fundamental. A ideia de que os políticos são todos iguais não passa de um enorme equívoco. Votar de maneira responsável leva ao fortalecimento da democracia e ao amplo desenvolvimento social e econômico do país". Idêntico raciocínio se aproveita às eleições de OAB, que nem é mera "autarquia especial", nem "longa manus" de grupos de influência, nem é de esquerda, nem de direita, mas patrimônio imaterial da cidadania.
O voto por sua vez não é estuário de rancores mal curados ou de revoltas sem direção. Nem lago de Narciso, repositório de projetos de poder pelo poder ou para maquinações de retaliação. Também não serve a cultos à personalidade. Nem é sucedâneo de trampolim para ambições inconfessadas. O voto é sagrado, é conquista que ninguém arranca, é ferramenta de revolução sem armas, é a maior expressão do interesse público.
Em breve, a advocacia de Pernambuco - e das demais Seccionais e Subseções do Sistema OAB no País - irá às urnas. A cada triênio repete-se o compromisso. Longe de um estorvo, uma honra. Um contributo a um bem maior.
Escreveu Martha Medeiros que a felicidade é a combinação de sorte com escolhas bem feitas. As escolhas que hoje contemplam a advocacia passam ao largo das torcidas cegas de ódio, dos falsos vestais e dos mercadores de ilusões. Repudiam, ainda, a desinformação e a mentira. São escolhas que exigem a reflexão do agora e um olhar
fixo para o futuro. Não é enquete para definir vencedor de reality show. Advertiu Lincoln: "Só tem o direito de criticar quem se predispõe a ajudar". Se o ânimo é o do pugilista, o processo político nasce falido; se a vontade é diversa, ele atinge a idade adulta esbanjando saúde. Qual caminho trilhar para de fato renovar? Eis a pergunta que só cada um pode responder. Que o faça, acima de tudo, sabiamente.
Gustavo Henrique de Brito Alves Freire, advogado