Desafios das cidades brasileiras
As soluções requerem um planejamento urbano transparente, comprometido a longo prazo, elaborado com forte responsabilidade cidadã...

As cidades têm papel crucial para o desenvolvimento sustentável de um país. Segundo Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia nos EUA e especialista em desenvolvimento sustentável, mais da metade da população mundial vive em centros urbanos. Por volta de 2030, a porcentagem atingirá 75%. O McKinsey Global Institute conclui que 80% do PIB mundial é gerado nas cidades.
No Brasil, a lista de desafios é enorme para uma cidade figurar bem nos rankings das melhores cidades para se viver. São muitos os problemas e multidimensionais: pobreza; desigualdades; desemprego; poluição sonora, dos rios, canais e ar; dificuldade de mobilidade, por calçadas, ruas e avenidas; transporte público desconfortável, ineficiente, inseguro; violência com crimes de toda natureza; burocracia, que emperra a economia e complica a vida do cidadão; serviços precários de saneamento, saúde, coleta de lixo. O sistema educacional está longe de ser classificado como um dos melhores do mundo. Há leis que precisam ser adequadas ao mundo atual, que estimulem o crescimento sustentável. Nos prédios administrativos dos governos, em sua maioria, as instalações e tecnologias são inadequadas para a boa produtividade. Esse conjunto de problemas em muitas cidades são geridos por prefeitos despreparados para o exercício do complexo desafio e com interesses que nem sempre visam um desenvolvimento sustentável das cidades, eleitos pela maioria dos cidadãos inconscientes e/ou ignorantes da responsabilidade dos seus votos.
Toda essa demanda de problemas se agrava ainda mais quando grande parte do orçamento municipal está comprometido com o pagamento de funcionários, não sobrando dinheiro para as necessárias manutenções e investimentos para a cidade prosperar. Cidades com esse perfil são insustentáveis, pois à medida que crescem em população, os problemas se agravam ainda mais.
As soluções requerem um planejamento urbano transparente, comprometido a longo prazo, elaborado com responsabilidade cidadã, considerando referências das melhores práticas e experiências bem sucedidas em outras cidades no Brasil e no mundo. Muitas delas expostas no livro "Cidades e Soluções" de autoria do jornalista André Trigueiro. Esse planejamento deve contemplar a revitalização e crescimento sustentável da cidade. É nela onde as pessoas moram, estudam, trabalham, conectam-se e se divertem.
Há boas referências que podem subsidiar prefeitos na elaboração do planejamento. A Consultoria Mercer, presente em 130 países, desenvolve pesquisa sobre indicadores em 450 cidades. Analisa 39 fatores, agrupados em categorias: Ambientes político, social, econômico, cultural; legislação; serviços médicos; saúde da população, saneamento; poluição; qualidade das escolas; transporte público; mobilidade; energia elétrica; abastecimento d´água; telecomunicações; comércio de alimentos e bens de consumo; habitação e serviços de manutenção; clima e histórico de desastres ecológico; entretenimento; segurança; conexões de transporte nacional e internacional; logística; cadeia de fornecedores; talentos. A pesquisa de 2023, classificou 241 cidades no mundo. No Brasil as cidades que constam nessa lista com suas respectivas classificações são: São Paulo (108º), Rio de Janeiro (115º), Brasília (119º), Belo Horizonte (120º) e Manaus (150º).
Prefeitos e vereadores que serão eleitos precisam fazer o desafiador "dever de casa" para fazer acontecer a transformação da cidade, urgente e necessária, objetivando a sua prosperidade e o bem estar dos seus cidadãos e visitantes. Atrair negócios que gerem empregos de qualidade, turistas e talentos internacionais deve ser um objetivo essencial. A competição é global. Uma economia que depende exclusivamente de comércio local e órgãos públicos não prospera.
Para ocorrer, a cidade precisa ser um local onde o bem-estar das pessoas é prioridade. Os cidadãos possam caminhar pelas ruas tranquilamente, com calçadas acessíveis; o transporte público eficiente, acessível para todos, conectando diferentes partes da cidade de forma rápida e segura; os parques bem cuidados, arborizados e sejam locais de encontros para a comunidade; rios e canais limpos; o trânsito fluindo bem; bicicletas com lugar garantido e ciclovias integradas; teatros e museus com exibições relevantes; grandes festivais culturais e eventos para profissionais. As políticas públicas funcionam para reduzir desigualdades, proporcionando acesso igualitário à saúde, educação e oportunidades de emprego; oferece boa conexão digital; o cuidado com a população vulnerável é sustentável; os sistemas educacional e de saúde são de qualidade. A participação popular é incentivada, valorizada e respeitada de forma que as decisões são tomadas de forma colaborativa.
Esse conjunto de desejos resumem-se em: planejamento, governança, infraestrutura, educação, saúde, cultura, segurança, mobilidade, sustentabilidade. Essa cidade não é utopia. É uma cidade que cresce com respeito ao passado e comprometida com o futuro. Pode ser construída com a participação de todos, começando pelas pequenas mudanças e pelo olhar atento ao que realmente importa: as pessoas.
Fica a expectativa que os vereadores e os prefeitos eleitos honrem a confiança demonstrada em voto por seus eleitores, exercendo seus mandatos com dignidade e comprometidos com o bem-estar coletivo. É fundamental que apresentem plano de governo transparente e detalhado, inclusive com orçamento e metas para revitalizar e solucionar os problemas do município que governarão a partir de Janeiro/2025 ao longo dos próximos quatro anos.
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Eduardo Carvalho, Autor do livro "Por um Brasil digno"