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Cícero do Samburá

Cícero do Samburá foi um dos homens mais inteligentes, trabalhadores e generosos que conheci. Ele nasceu em Paudalho e chegou a Olinda em 195

Por ARTHUR CARVALHO Publicado em 04/12/2024 às 0:00 | Atualizado em 04/12/2024 às 14:36

Seu nome de batismo era José Francisco Pereira, conhecido como Cícero do Samburá. Depois de trabalhar em várias empresas, baixou no Bairro Novo, na Av. Beira Mar, atual Marcos Freire. Naquela época, a Marim dos Caetés terminava praticamente na Praça 12 de Março, antiga Circular do "Bonde", porque o bonde que ia do Recife tinha seu terminal nessa praça, onde fazia a curva e voltava para Recife.

Cícero comprava cajus baratos naquela área, montou uma pequena barraquinha de madeira e começou a vender doses de cachaça com caju, em pé, diante da banquinha, na Av. Beira Mar. Com o tempo, foram surgindo bares e restaurantes por ali, na Orla Marítima, entre eles o de Zé Pequeno, o Itapoã, o Guaiamum, o do Nego Bené e a Churrascaria do Mestre Aragão. Com o tempo, prosperou nesse incipiente comércio e fundou o Restaurante Samburá, com modelo imitando o cesto de Samburá, que acondiciona os peixes de médio porte, pescados pelos pescadores de jangada e pequenos barcos de pesca.

A casa ficou famosa pela excelente qualidade da cozinha e delicioso tempero, destacando-se o galeto, a lagosta ao coco, a peixada de arabaiana e os casquinhos de caranguejo.

Cícero revezava no trabalho entre o caixa e a cozinha, dia e noite, sem descansar domingo, dia santo e feriado. Não fumava, não bebia e não jogava, mas era gamado nas mulheres e tinha um papo maravilhoso, narrando fatos pitorescos de sua infância e mocidade. Quando fui morar em Olinda, em 1964, estreitei minha amizade com ele e me tornei seu advogado e advogado do Hotel Samburá, que ele mesmo construiu com o dinheiro que economizou da renda do Samburá.

Seu restaurante era frequentado por boêmios, magistrados, políticos, desportistas, radialistas, artistas célebres do rádio, da televisão, do teatro e do cinema e turistas nacionais e estrangeiros. E não tinha vez para cafajestes, embora os clientes nem sempre pagavam os "pinduras" que faziam, diga-se a verdade. Mas com sua estatura moral afugentava possíveis fregueses cafajestes. Ele criou a lendária corrida das jangadas. Na última vez que se hospitalizou, pediu aos médicos para me ver. Fui vê-lo e choramos abraçados na UTI. Despediu-se aos 102 anos de idade. Saudade!

Arthur Carvalho , cidadão Honorário de Olinda.

 

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