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Conversas de 1/2 minuto (37): Cemitérios ( Ie II)

Aos caros leitores do JC, mais conversas, hoje só os cemitérios e afins, em livro que estou escrevendo, conforme título da coluna......

Por JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHOjp@jpc.com.br Publicado em 06/12/2024 às 0:00 | Atualizado em 06/12/2024 às 9:25

BLAISE PASCAL, filósofo. Cristão assumido, no leito de morte, um amigo disse:

Você, finalmente, irá encontrar o Pai.

E tomara que eu esteja certo.

EÇA DE QUEIROZ, escritor. Em Túmulos, disse

Durante a vida o egípcio tendo por pensamento, por consciência, por fim supremo do ser a ideia da morte, construía casas de barro e túmulos de granito!

FELIPA ALMEIDA MENDONÇA, jornalista. Começou entrevista, ao jornal Público, dizendo:

O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem.

O que lembra belo soneto do frei António das Chagas (António Fonseca Soares), no Século XII, Conta e tempo

Deus pede estrita conta de meu tempo.

E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.

Mas como dar, sem tempo, tanta conta

Eu que gastei, sem conta, tanto tempo?

Para dar minha conta feita a tempo,

O tempo me foi dado, e não fiz conta.

Não quis, sobrando tempo, fazer conta

Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.

Oh vós, que tendes tempo sem ter conta,

Não gasteis vosso tempo em passatempo.

Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta.

Pois aqueles que, sem conta, gastam tempo,

Quando o tempo chegar, de prestar conta

Chorarão, como eu, o não ter tempo...

FERNANDO PESSOA, poeta. Em caderno de viagem (hoje guardado com zelo) está texto inédito seu que começa dizendo

Cada palavra dita é a voz de um morto.

* * *

E, em O marinheiro, disse

Por que é que se morre?

Talvez por não se sonhar bastante.

GEORGES CLEMENCEAU, presidente do Conselho da França na Primeira Guerra. Um jornal belga noticiou sua morte. Clemeceau respondeu, a seu editor,

Li no jornal, que Vossa Excelência tão superiormente dirige, a notícia de minha morte. Como é uma fonte geralmente bem informada, tenho de concluir que deve ser verdade. Sendo assim, e estando agora no outro mundo, não necessito mais da leitura de seu conceituado jornal e por isso peço-lhes a fineza de riscar meu nome da sua lista de assinantes.

HENRIQUE DE RESENDE, advogado. No Cemitério de Cataguazes (MG) está esse epitáfio, em seu túmulo, escrito pelo próprio

Contra sua vontade, bem se entende,

Sempre amando a vida como outrora

Aqui repousa Henrique de Resende

Que preferia repousar lá fora.

INSCRIÇÕES TUMULARES. Seguem algumas de pessoas famosas

* CONAN DOYLE. No Cemitério de Minstead (Inglaterra)

Verdadeiro aço. Lâmina afiada.

* DOROTHY PARKER, atriz americana. Disse à revista Vanity Fair, em 1925, qual seria seu epitáfio

 sculpe a minha poeira (o meu pó).

* EDGAR ALLAN POE. Na parte de trás do cemitério de Westminster (Estados Unidos), uma referência a seu mais famoso poema

Disse o corvo, nunca mais.

* EVITA PERON. No cemitério da Ricoleta (Buenos Aires), longa citação que começa dizendo

Não chores por mim.

* FRANK SINATRA. No Desert Memorial Park da Califórnia (Estados Unidos)

O melhor ainda está por vir.

* KARL MARX. No Cemitério de Highgate (Londres)

Os filósofos têm interpretado o mundo de várias maneiras. O ponto, contudo, é mudá-lo.

* STHENDHAL. No Cemitério de Montmarte, Paris (França), está o que escreveu para ser posto em seu epitáfio

Escreveu, amou, viveu.

Na verdade queria também que constasse, e não foi atendido, "adorava Cimarosa, Mozart e Shakespeare".

* WILLIAM SHAKESPEARE. Na Igreja da Santíssima Trindade, em sua cidade natal Strafford-upon-Avon (Inglaterra)

Abençoado seja o homem que poupar essas pedras e maldito o que mover meus ossos.

Por fim, não está no seu túmulo mas foi a última frase que disse HUMPHREY BOGART,

Nunca deveria ter trocado scotch por martini.

LULA ARRAES, médico (e filho do governador Miguel Arraes). Anotou esse epitáfio escrito por um poeta de Timbaúba (Pernambuco)

Aqui jaz

Para seu deleite

Sebastião Uchoa Leite.

MANUEL BANDEIRA, poeta. Escreveu esse Último poema

Assim eu quereria o meu último poema

Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas

Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume

E a paixão dos suicidas que se matam sem explicação.

 

José Paulo Cavalcanti Filho

jp@jpc.com.br

 

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