Roberto Pereira: Assaltos e sobressaltos
Terrível o acontecido em São Paulo, quando a brutalidade de um policial fê-lo arremessar um entregador, cidadão do bem, de uma ponte

Infeliz a espiral crescente e alarmante do número de assaltos praticados em nosso país, alguns deles resultando em vítimas fatais pela ação grotesca de criminosos sem nenhum compromisso com a sociedade, com a vida, com Deus e com aqueles que os colocaram no mundo.
Importante o pensar de público sobre o que se passa na intimidade de uma família, quando, abruptamente, se vê diminuída nos seus pertences materiais conquistados à força do trabalho, do suor, das energias despendidas e do esforço que a inteligência e a criatividade exercitam.
Pior- infinitamente pior -, irreversivelmente triste, quando além dos anéis se vão dedos inocentes, acompanhando os corpos cujas vidas a brutalidade humana ceifa na simplicidade e frieza de assassinos impunes, mesmo que filhos de uma sociedade injusta.
O problema não é somente um caso de polícia, de leis e atos punitivos, de vigilância indormida. Há aspectos sociais de tal ordem que, se o Brasil não reverter a sua política econômica e social, daqui a pouco ingressaremos numa atmosfera de tal gravidade que, só entrincheirados, teremos condições de uma sobrevivência maior neste chão sagrado, porque chão da Pátria, embora enlameado, não pelo sangue dos imolados, mas pelos que pisam com os pés animalescos.
Terrível o acontecido em São Paulo, quando a brutalidade de um policial fê-lo arremessar um entregador, cidadão do bem, de uma ponte, sob os olhares passivos de outros treze policiais, hoje todos respondendo inquérito policial, graças à pronta intervenção do Governador Tarcísio de Freitas.
Todavia, a imagem revela o despropósito da violência praticada, num sobressalto à dignidade humana.
Juntem-se, agora, os golpes cibernéticos que têm sido o horror dos seres humanos, muitos os assaltos mediante enganações, engabelando os menos prevenidos, sobretudo os idosos e aposentados, gerando sobressaltos à paz das pessoas deste planeta.
Enquanto houver desemprego e desigual distribuição de renda, o homem estará aviltado na sua condição humana, de gente querendo ser gente no meio do povo, no seio da sociedade. A fome é má companheira e, por isso, impulsionadora dos vícios e dos malefícios sociais.
Não é tanto a pobreza e sim a miséria que depõe contra o ser humano, esta a flama, à época, do então arcebispo de Olinda e Recife, dom Hélder Câmara, sempre em defesa dos injustiçados pela exploração econômica historicamente praticada no Brasil.
Menos pelos pobres e mais pelos miseráveis, os que sequer têm o alimento básico no seu cotidiano, as condições mínimas de educação, de saúde e moradia.
Os avanços do mundo moderno parecem negar o bem-estar social, a felicidade, que é sempre o ponto de busca do homem que sonha com a plenitude aqui mesmo nesta vida terrena.
O homem de hoje, principalmente o terceiro-mundista como nós, vive inquieto e apreensivo com os sobressaltos de atos brutais engendrados nas alcovas das consciências de pessoas inescrupulosas, cujas mãos, envoltas em luvas de pelica, satanicamente, deformam a dignidade da criatura humana.
Bom seria que o homem tivesse a técnica para construir a bomba atômica, mas lhe sobrasse o humanismo para somente utilizá-la, para o bem da humanidade.
Melhor ainda se o Menino do Dedo Verde, nascido da criação de Maurice Druon, fosse realidade e os canhões atirassem de fato flores, ao invés de balas. Rosas e vidas, no lugar de granadas e mortes.
Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.