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Folclore do futebol

Na década de 40, o Esporte Clube Ypiranga, meu time de coração, teve grandes elencos. No total, foi campeão baiano 10 vezes até hoje

Por ARTHUR CARVALHO Publicado em 01/01/2025 às 0:00 | Atualizado em 02/01/2025 às 10:10

Sua camisa é amarela, cor de canário, com listras pretas, finas, verticais, de seda daí seu apelido de Canário. Seu trio final mais famoso foi Bonfim, Heitor e Gregório. O Ypiranga era um time de negros. O único branco foi seu beque direito e capitão Heitor, meu tio materno, funcionário do Banco do Brasil.

Seu inesquecível momento de glória foi a vitória para o Palmeiras de Oberdan, Caiéira e Begliomini por 2 X 0 em partida noturna no velho e acanhado campinho da Graça, de dimensões mínimas e arquibancada de madeira. Lembro-me do centroavante do Periquito, o argentino Bógio de grande bigode negro, anulado por Bacamarte, zagueiro do Ypiranga. Os gols da vitória Ypiranguense foram dois petardos de faltas batidas por Bolivar, médio do Guarany, emprestado ao Ypiranga. Lembro de 4 jogadores do Canarinho que atuaram naquele histórico amistoso o ponta direita Cacuá, o centroavante Pequeno, o meia esquerda Ranulfo e o ponta esquerda Estanislau.

Ranulfo foi contratado pelo América do Rio e formou numa linha de frente célebre com o ponta direita baiano Natalino, o meia-construtor Maneco, apelidado de O Dono da Bola que infelizmente se suicidou, o centroavante mineiro Dimas, que veio pro América do Recife, depois Sport, e pro Vitoria da Bahia numa transação por mim recomendada ao meu tio Luís Catarino, Presidente Rubro Negro e fez o gol da vitória do Vitória contra o Bahia na estreia; Ranulfo que integrou a seleção carioca e era um grande jogador e Jorginho, time apelidado de tico-tico no fubá.

Se Ranulfo estivesse na Seleção Brasileira em 82 no lugar de Zico, Gentili não teria feito a marcação desleal e covarde que fez no Galinho de Quintino. Bastava ele encarar a catadura de canibal de Ranulfo. Ranulfo lembrava os irmãos Dagobé do conto Os Irmãos Dagobé do Livro Primeiras Estórias de Guimarães Rosa que assassinavam os inimigos e iam ao velório rezar por eles. Se nosso técnico Telê fosse um pouquinho inteligente e previdente sabendo que nosso maior jogador iria ser cassado em campo pelos italianos, levaria um substituto caceteiro e traria a Copa para o Brasil. Estanislau cobrava escanteio de "letra" e não perdia um. Pena Hélio Pinto não estar vivo para confirmar.

Arthur Carvalho, torcedor do Ypiranga, Sport e Flamengo

 

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