Em toda praia urbana movimentada, sobretudo naquelas mais badaladas pelo turismo e frequentadas pela população local, a presença de profissionais habilitados para o salvamento na água e os primeiros socorros é comum. Os banhistas ficam mais tranquilos com a supervisão desses profissionais, que precisam estar atentos e dispor de estrutura adequada para observação e, quando necessário, entrarem em ação para salvar as pessoas em risco. Infelizmente, não é o que se vê em Pernambuco, no principal cartão-postal do litoral recifense, embora se saiba, há décadas, dos perigos na praia de Boa Viagem, desde afogamentos até ataques de tubarão.
O problema é conhecido dos gestores públicos há muito tempo. Um ano atrás, o JC publicava reportagem acerca do abandono dos postos salva-vidas em Boa Viagem. No primeiro dia de 2023, um adolescente de 16 anos morreu afogado, e outros banhistas enfrentaram a violência das águas, sem contar com a sensibilidade e as providências esperadas do governo do Estado, que deveria ser responsável pela gestão desse cuidado, através do Corpo de Bombeiros. O projeto de reestruturação dos postos, apontado no ano passado como solução a caminho, até hoje não saiu do papel – ou da promessa sem compromisso com a ação.
A nova secretária de Defesa Social do governo Raquel Lyra, Carla Patrícia, encontra este dever para cumprir, entre outros deixados pela gestão que atravessou 16 anos em Pernambuco. Se a falta de estrutura nos postos é explícita, não se sabe o motivo para a ausência dos salva-vidas à beira-mar. A população faz tempo que não vê os profissionais na praia de Boa Viagem. Esta semana, ao voltar à orla para revisitar o problema, o JC encontrou apenas dois bombeiros, que disseram não estar autorizados a
conceder entrevistas. A missão de salvamento dos salva-vidas passa a caber a Raquel Lyra e sua equipe, após anos de abandono semelhante a uma omissão de socorro, pelo governo anterior.
O silêncio dos gestores se estende, inexplicavelmente, à Prefeitura do Recife, que também deveria zelar pela segurança na orla da capital. Metade do mandato da atual gestão municipal já passou, e não parece ter havido interesse no tema, sequer para pressionar o governo do Estado em assumir a responsabilidade devida. Talvez agora, que o dever não cabe ao mesmo partido, o prefeito do Recife acorde para a importância social e econômica dos salva-vidas na praia. E para resgatar o investimento de R$ 4 milhões da gestão Eduardo Campos, que montou as estruturas com tecnologia adequada para monitoramento e comunicação, visando agilizar os salvamentos. Atualmente, pelo menos quatro postos se tornaram dormitórios para a população de rua – uma finalidade interessante, diante do esquecimento do poder público.
Para que a praia de Boa Viagem não continue sendo um lugar inseguro, a demanda por salva-vidas entra na lista de urgências deixadas na herança administrativa para o governo Raquel Lyra.