8 DE JANEIRO

Democracia importa

Vandalismo aos prédios dos Três Poderes, em Brasília, chocou o país inteiro, um ano atrás, em reflexo do negacionismo eleitoral

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JC

Publicado em 08/01/2024 às 0:00
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Quando invadiram, depredaram e debocharam dos poderes da República, há um ano, cidadãos brasileiros contaminados pelos vícios da ideologia radical não estavam apenas contestando um resultado eleitoral com o qual não concordavam – por mais que o veredito das urnas não seja passível de tal modo extremo de contestação. Muito além de uma eleição, o que se negava, naquele 8 de janeiro de triste e necessária memória, por ter sido momento único na história nacional, era a própria democracia. Os alicerces do Estado Democrático de Direito foram alvos do escárnio e do ódio de milhares de militantes que confundiram o direito à expressão com o inexistente direito de cruzar os limites da lei, da sensatez, do respeito às instituições e da valorização da liberdade, cujos fundamentos individuais não se sobrepõem aos fundamentos coletivos.
Mais de dois mil vândalos foram detidos por participação nas invasões às sedes dos Três Poderes, em Brasília. Poucos ainda estão presos. O Judiciário buscou fazer sua parte na condenação moral e legal de protestos que passaram dos limites do descontentamento. Investigações que se seguiram à depredação, data culminante para movimentações golpistas possivelmente articuladas desde antes do segundo turno da eleição presidencial em 2022, sinalizam para a insinuação de um golpe que invalidaria o resultado das urnas. Mas as instituições resistiram ao canto torpe da supressão da ordem democrática, e representantes do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, em todo o território nacional, além das Forças Armadas, rechaçaram o golpismo, reafirmando em alto e bom som o apreço pela vida democrática.
Um ano depois do choque – mais visual e patrimonial do que institucional, ainda bem – a data de 8 de janeiro será lembrada como o precipício em que não caímos. Em Brasília e diversas cidades do país, solenidades e demonstrações de apoio à democracia estão programadas, para afastar de vez a sombra do autoritarismo por trás do negacionismo político disseminado como tendência nas redes sociais. A expectativa é que não haja repetições de vandalismo ou ameaças, planejadas ou impulsivas, às instituições e personalidades que as representam. Nem mesmo a ojeriza pela política justifica a baderna e a violência contra os políticos ou demais integrantes dos Três Poderes. É do sistema democrático que devem vir soluções e progressos para os problemas contemporâneos enfrentados pela democracia, em todo o mundo.
Assim como a deturpação da celebração do 8 de janeiro como dia de resistência, pelos apoiadores dos vândalos, é um acinte, a transformação da data em referência partidária ou de um governo é imprópria. A democracia é uma conquista que importa para todos os brasileiros, sem distinção nem favorecimento. E não se define por um conceito relativista, a serviço de casuísmos e amizades com ditadores. A democracia importa para quem acredite nos direitos humanos, de um indivíduo à nação inteira, sem espaço para o malabarismo verbal típico do mesmo tipo de desapreço que uniu os vândalos do 8 de janeiro.

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