DESEMPREGO

Uma calamidade social

Há anos em decadência econômica, Pernambuco fechou 2023 com quase o dobro da taxa de desocupados em relação à média nacional

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JC

Publicado em 17/02/2024 às 0:00
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É muita gente querendo trabalhar, em todo o país. Mas como em tudo no Brasil, a distribuição do potencial produtivo não aproveitado da população em idade economicamente ativa é desigual. Sendo maior essa lacuna justamente aqui, em Pernambuco, uma das unidades mais pobres da federação, onde a desigualdade é perversa e a massa de excluídos perambula pelas ruas e calçadas da capital, se entulha nos morros e nas palafitas, sem habitação decente tanto quanto sem oportunidades de trabalho. A taxa de desocupação no território pernambucano ultrapassa 13%, enquanto a média nacional é pouco menor do que 8%. Uma distância que põe a cidadania em xeque, requer políticas compensatórias e estimuladoras urgentes, e ainda impõe uma visão de longo prazo que seja capaz de reverter o processo de decadência no estado, verificado ao longo das últimas décadas, e engatar um ciclo sustentável de crescimento com saltos necessários no desenvolvimento social.
De acordo com novos números do IBGE, o resultado de 13,4% para o ano em Pernambuco foi o maior do país, embora tenha sido o menor para o estado desde 2015, na medição da PNAD Contínua trimestral, que se refere aos três últimos meses de 2023. De outubro a dezembro, época tradicional de oferta de empregos temporários, o índice foi de 11,9%, para pouco mais de meio milhão de pernambucanos que buscaram trabalho e não encontraram. Outro dado importante para os formuladores de políticas públicas visando o impulso econômico como transformador do quadro social degradado, é que metade dos trabalhadores no estado não têm empregos formais. A economia informal supre o que a formal não arranja.
No plano nacional, o desemprego caiu em praticamente todos os estados, à exceção de Roraima, que mesmo assim ficou abaixo da média nacional, com 6,6% de desocupados na população. A média brasileira ficou em 7,8%, quase dois pontos percentuais menor do que a de 2022, que havia sido de 9,6%. Em Minas Gerais, o desemprego foi de apenas 5,8%, de 3,4% em Santa Catarina, e no Mato Grosso, de 3,3%. Além de Pernambuco, novamente com a maior taxa de desempregados, a Bahia aparece com 13,2% e o Amapá, com 11,3%. A discrepância entre as regiões é digna de nota, mas as peculiaridades estaduais também despontam no cenário da diversidade brasileira.
Num país e num estado em que a fome é escancarada, assim como a moradia precária, a desassistência na saúde e os gargalos na educação, o desemprego é parte de uma calamidade social que precisa de abordagens articuladas e intensivas. Governantes e funcionários públicos de variadas esferas de poder entram e saem de seus gabinetes, todos os dias, com a mesma realidade do lado de fora, intocável pelas promessas não cumpridas e pelos planos que nunca são concluídos. Faltam ser feitas escolhas pelos mais vulneráveis, ao lado de programas robustos de educação básica e profissionalizante, melhoria do ambiente de negócios e com estímulos ao empreendedorismo. Sem integração, a velocidade de recuperação da economia não descola da calamidade social.

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