LINHA VERMELHA

O Holocausto de Lula

Ao fazer uma comparação descabida, o presidente brasileiro abre uma crise diplomática, e acirra animosidades ao invés de contribuir para a paz

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JC

Publicado em 19/02/2024 às 0:00
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Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, estima-se que 70% dos judeus na Europa – seis milhões de indivíduos – foram assassinados pelo partido nazista alemão de Adolf Hitler, que também perseguiu e matou ciganos e pessoas com necessidades especiais. Hitler comandou o maior genocídio da história, no século 20, e seu antissemitismo até hoje traz repercussões para o povo judeu espalhado pelo mundo. Para os nazistas, judeus e negros eram inferiores aos alemães, e deveriam ser exterminados ou dominados. De 1933 a 1945, 40 mil campos de concentração foram instalados pelo nazismo, com o objetivo de prender, impor trabalhos forçados e matar os grupos considerados inferiores e os “inimigos”.
Por mais abominável que seja – e não deixa de sê-lo, como qualquer cenário de guerra – a invasão de Israel sobre a Faixa de Gaza conta com a justificativa do ataque bárbaro ao território israelense, pelo grupo terrorista Hamas, que governa aquela porção de terra ocupada pelos palestinos, há vários anos. Por mais truculenta que seja a ação comandada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, os israelenses não transformaram o povo palestino de Gaza em vítimas de um Holocausto, uma vez que não há deliberada e declarada limpeza étnica, enquanto os terroristas do Hamas são o alvo, e os palestinos – privados, sim, de direitos humanos elementares – não são perseguidos diretamente para serem assassinados, como foram os judeus pelos nazistas.
Em mais uma de suas incontinências verbais, o presidente do Brasil, Luiz Inácio da Silva, puxou para si os holofotes da polêmica, e ao invés de contribuir para o esperado cessar-fogo na região, atiçou ainda mais os ânimos. Para Lula, a perseguição do governo Israelense ao Hamas é equivalente à perseguição e assassínio dos judeus pelos nazistas de Hitler. Além de momentos históricos, escalas e propósitos bem diferentes, a fala ignorou a circunstância da oportunidade, já que meio mundo diplomático busca convencer Netanyahu a retroceder as tropas e parar de enviar mísseis para uma Gaza já em ruínas, abrigando refugiados em seu próprio lar. O Holocausto de Lula, voluntariamente ofensivo, é um grotesco erro tático para os que defendem o fim das mortes de palestinos inocentes.
Entre a vergonha da diplomacia brasileira e a gravidade com que a comparação foi recebida, não apenas por Israel, mas da parte de comunidades judaicas no Brasil e noutros países, bem como de líderes internacionais, o atual ocupante do Planalto prestou um desserviço à causa da paz. Netanyahu pode, com a deixa, retomar o argumento da proteção de seu povo, e até elevar o grau da investida em Gaza. Depois do silêncio calculado diante da morte do opositor de Putin na Rússia, que resultou na detenção de centenas de manifestantes que tentaram ir às ruas protestar, Lula se volta contra os judeus, mais uma vez cruzando a linha da ideologia para defender o indefensável.

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