SEGURANÇA

O vexame de Mossoró

Depois de um mês de mobilização de centenas de policiais, recursos tecnológicos e dinheiro gasto, o fracasso na captura dos fugitivos afunda a segurança máxima

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JC

Publicado em 15/03/2024 às 0:00
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O impacto da fuga de dois homens ligados a uma facção criminosa da prisão federal de segurança máxima de Mossoró, no Rio Grande do Norte, foi tamanho no governo Lula, que o próprio ministro da pasta, Ricardo Lewandowski, ordenou a reação imediata para buscar e capturar os fugitivos. Um mês depois da fuga, no entanto, o ministro tenta amenizar o que até agora pode ser descrito como fracasso da operação milionária de captura, afirmando que o êxito deve ser creditado à informação de que os prisioneiros continuam na área do entorno da penitenciária, sob forte cerco e vigilância, impedidos de ir mais longe. Mas o fato é que à falha original – da máxima segurança sem estrutura mínima para tanto – se segue, até o momento, a não localização de dois condenados de alta periculosidade e papel relevante para o crime organizado, dobrando o vexame para o governo e para a segurança pública brasileira.
Para o ministro, o fracasso apenas poderá ser confirmado caso se saiba que os fugitivos estejam em outro estado. No entanto, é importante ressaltar que a demora implica na exposição de fragilidades evidentes do sistema de segurança máxima em Mossoró, dentro e fora da penitenciária. Primeiro, os dois presos tiveram tranquilidade para planejar e executar a intenção de fuga sem serem percebidos ou incomodados, até consolidarem a intenção. E depois, do lado de fora da prisão, a falta de estrutura e de medidas previstas de contenção em caso de fuga – mesmo improváveis – demonstra a continuidade dos problemas num raio mais amplo. Os gastos financeiros, de equipamentos e recursos humanos empregados na operação de captura, por um lado, mostra o comprometimento do governo em desfazer a péssima impressão deixada pelo episódio. Mas, por outro, levantam questões que irão permanecer, mesmo quando, ou se, os fugitivos forem encontrados e reconduzidos à privação da liberdade.
As dificuldades na empreitada aparecem como extensão dos problemas de um sistema prisional com furos por todos os lados. Nos estados, muitos presídios não atendem às demandas dos direitos humanos dos presos, ao mesmo tempo em que são territórios dominados pelas facções criminosas. Em Pernambuco, por exemplo, a situação é vista como caótica, há muitos anos, por observadores internacionais. As prisões no Brasil se tornaram embaixadas do crime, sem acesso ao Estado, ou com a ilusão do controle superficial sobre equipamentos tomados pelos bandidos, que se permitem até organizar ações do lado de fora, sem medo de represálias.
A recaptura se transformou em questão de honra para as autoridades. Mesmo que ocorra, a confiança da população na segurança pública, que já não era grande, fica ainda mais abalada. Enquanto a perseguição continua com cerca de 500 policiais envolvidos, o governo federal tem anunciado investimentos nos presídios, contabilizando medidas que já deveriam ter sido implementadas há muito tempo, como muralhas, videomonitoramento mais eficiente e tecnologia de reconhecimento facial.

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