SAÚDE PÚBLICA

Vacinação baixa é um desafio

Apesar da melhora na cobertura, as metas ainda estão longe de ser alcançadas no Brasil, elevando o risco de volta de doenças e de sobrecarga dos serviços de atendimento

Cadastrado por

JC

Publicado em 04/05/2024 às 0:00
Chuvas no Rio Grande do Sul - Thiago Lucas

Desde antes da pandemia de Covid, a cobertura de imunizações vinha caindo, no Brasil e em outras partes do mundo, num efeito contraditório, mas compreensível, da segurança proporcionada pelas vacinas: quanto mais seguras e menos expostas as pessoas se sentiam em relação a doenças que diminuíram sua incidência e seus riscos, graças à vacinação, menos a aplicação das doses era vista como necessária. E a taxa de cobertura começou a cair. A pandemia agregou a desinformação a esse contexto, fazendo com que muita gente aumentasse a desconfiança e o medo em relação às vacinas. O resultado foi que a cobertura vacinal, que já vinha caindo, despencou, acendendo o alerta das autoridades sanitárias para o retorno de patologias erradicadas ou controladas.
Seja para as vacinas da agenda de cuidado infantil, seja para a prevenção à gripe ou à dengue, a estratégia do governo federal é buscar a utilização dos estoques disponíveis, mesmo que os públicos prioritários não atendam ao chamado. Por isso, há poucos dias, seguindo a orientação do Ministério da Saúde, a Prefeitura do Recife anunciou a ampliação da disponibilização da vacina contra a gripe para toda a população, de todas as idades. O importante é imunizar o máximo de pessoas, a fim de não perder vacinas, e ainda, com o objetivo de garantir a prestação dos serviços de saúde para os que precisarem de assistência emergencial.
Os dados demonstram que o hábito da vacinação vem se perdendo entre os brasileiros desde 2016, tendo sido impulsionada essa redução a partir da pandemia. A erradicação de epidemias gerou um ambiente de segurança que demandaria, para se manter, mais vacinação, e não menos. Ao invés de voltar a ser referência mundial em imunização, como prometeu o presidente Lula no início do terceiro mandato, o país continua enfrentando o desafio de resgatar a compreensão popular sobre a importância das vacinas – esforço que se verifica em diversos países, configurando exemplo de comportamento coletivo que aponta a existência de uma comunidade global que comunga valores, assim como a realidade cotidiana, como no caso traumático da pandemia de Covid.
No ano passado, nenhuma cobertura vacinal atingiu a meta de 95% do público-alvo, no Brasil. E teve até uma que diminuiu a cobertura, apesar dos investimentos em comunicação em prol da vacinação: a BCG, contra tuberculose pulmonar, caiu mais de 10% em 2023, em comparação a 2022. Nem a epidemia de dengue, com disparada de casos e aumento recorde de mortes, fez com que os brasileiros procurassem os postos de saúde para se vacinar contra a arbovirose. São poucas as vacinas para um país tão grande, mas o governo ampliou o público para não perder o estoque de vacinas adquiridas.
Em uma gestão que volta a defender as vacinas, a estratégia de comunicação e a estrutura de imunização dão sinais de pouca eficiência. O desafio continua, e pode aumentar com a exposição dos riscos de uma população desprotegida para a saúde pública.

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