TRAGÉDIA CLIMÁTICA

Toda atenção para o Sul

Mais chuvas, frio e alagamentos fazem com que a emergência se agrave, prolongando o sofrimento e o medo no Rio Grande do Sul

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JC

Publicado em 13/05/2024 às 0:00
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Ainda não passou. E as águas dos lagos e rios ainda devem subir, antes de voltar aos níveis considerados normais. Entre esta segunda e a terça, o Guaíba pode ultrapassar a marca histórica, com até 5,5 metros de elevação, de acordo com projeção da UFRGS que indica mais cheia, e consequentemente, a extensão da devastação observada até agora no Rio Grande do Sul. “Vai continuar se agravando”, afirmou o governador Eduardo Leite, sem meias palavras. O Brasil inteiro volta os olhos para o sul do país, enviando donativos para a população gaúcha, na esperança de que a chuva, o frio e o vento reduzam a intensidade o quanto antes, para que os efeitos da severidade do clima se amenizem, permitindo o planejamento da reconstrução.
A pior enchente em várias décadas encontra cidades que cresceram sem a preparação devida para o risco ambiental. Nem a capital, Porto Alegre, viu os investimentos preventivos para minimizar a elevação do nível do Guaíba. Agora, o que não foi feito deixa um passivo de lições e ruínas para o que precisa acontecer. E diante das mudanças climáticas, o volume de águas no estado tem tudo para não significar algo fortuito. Nessa perspectiva realista, o que vier a ser reerguido há de levar em conta o possível novo normal climático, inclusive se avaliando seriamente a transferência de habitantes dos locais de risco, bem como a reconfiguração da estrutura da economia relacionada a fatores naturais. “Insisto: não é hora de voltar para casa”, disse o governador. Talvez seja hora, assim que as águas baixarem, de se analisar para onde o povo irá regressar.
O contingente acima de 600 mil pessoas fora de suas casas, até o domingo, aponta a urgência de se repensar a localização dos assentamentos humanos no Rio Grande do Sul, e em outras partes do território brasileiro sujeitas a fenômenos extremos. Na Região Metropolitana do Recife e na Mata Sul, em Pernambuco, chuvas intensas deixaram sua marca trágica, não muitos anos atrás. Quais providências foram tomadas para evitar novas tragédias em decorrência das enxurradas que vêm por aí? O drama gaúcho, em plena vigência, deve servir para alertar os governantes de todos os níveis, no país, a encarar a questão climática de frente, com prioridade, sem demagogia nem desdém.
A provável repetição da tragédia em tão pouco tempo pede um reposicionamento político que não se restringe ao Sul. Prefeitos de cidades castigadas pelas enchentes demonstram ciência do perigo e responsabilidade, ao solicitarem aos moradores que evacuem suas residências e se mantenham distantes nos próximos dias. “Saiam imediatamente, porque as águas retornarão”, alertou o prefeito Jairo Jorge, de Canoas. Jonas Calvi, do município de Encantado: “Há muita água para chegar”. Mateus Trojan, de Muçum: “Não arrisque sua vida”. Outros agem na mesma direção, conclamando os habitantes a se retirarem das áreas de risco. Após o tormento passar, e o bom tempo abrir, a responsabilidade dos gestores públicos será posta em questão – sobre o que houve, e o que virá.

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