MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O que as cidades podem fazer?

O planejamento municipal precisa ser uma estratégia ativa, e não apenas reativa aos efeitos climáticos em curso

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JC

Publicado em 23/05/2024 às 0:00
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A gravidade das inundações no Sul não permite a continuidade dos negacionismos que menosprezam o risco climático. A realidade é cada vez mais contundente, em diversas localidades do mundo, e a repetição de fenômenos extremos passa a fazer parte do ciclo das estações, podendo gerar surpresas e catástrofes até mesmo em cidades consideradas seguras contra a ocorrência de eventos naturais. Especialmente as chuvas torrenciais que tendem a continuar crescendo em decorrência de fatores combinados, como o derretimento do gelo polar, o aquecimento das correntes marítimas e as mudanças atmosféricas em consequência do aumento global na temperatura da superfície da Terra.
Já tivemos uma mostra do que atravessam os gaúchos, e para o que cidades em todo mundo se deparam como possibilidade. De vulnerabilidade conhecida a chuvas nem tão fortes, a Região Metropolitana do Recife e a Mata Sul de Pernambuco se encontram no mapa do perigo ambiental no Brasil. E o que tem sido feito pelos governos – municipais, estadual e federal – para impedir novas catástrofes? Como os gestores municipais podem atuar, em articulação com os demais níveis de governo e os poderes Legislativo e Judiciário, a fim de minimizar os danos e as perdas, muitas delas irreparáveis, devido às tempestades e alagamentos?
O termo “refugiado climático” ganha sentido concreto, ao vermos os desabrigados no Rio Grande do Sul. Embora se diferencie dos refugiados que emigram por causa das guerras e da violência autoritária, esse tipo de fuga pode crescer em futuro próximo, redesenhando a ocupação urbana, e mesmo o modo de vida com que estamos acostumados hoje. Mas o que vai acontecer nas próximas décadas depende, em larga medida, de como os atuais gestores irão assumir a responsabilidade para promover medidas de transformação capazes de assegurar as melhores respostas aos eventos extremos, lá na frente. Quanto mais cedo forem compreendidas as implicações das mudanças climáticas, mais chances teremos de conviver com elas.
O planejamento das cidades precisa ser uma estratégia ativa, e não apenas reativa aos efeitos climáticos em curso. Para isso, há que se levar em conta os fatores de sustentabilidade conhecidos há meio século, da energia limpa à redução do consumo, em busca de padrões de desenvolvimento sintonizados com a finitude dos recursos planetários. Para além das medidas de prevenção, socorro e reconstrução, gestores municipais devem mapear áreas de risco e ter planos de evacuação para essas áreas, visando a segurança dos moradores, na maioria dos casos, de baixa renda e precária infraestrutura à disposição. E aí os gestores podem despertar para o óbvio: se as populações mais pobres são as mais afetadas pelos fenômenos meteorológicos, a necessidade de melhorar sua condição de vida se impõe. Quem sabe assim, pela pressão do clima severo, o desenvolvimento sustentável faça com que as cidades brasileiras possam vislumbrar mudanças efetivas em sua conformação social, reduzindo a desigualdade para evitar que o pior aconteça a todos.

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