Em mais uma passagem da data criada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1972, durante evento histórico em Estocolmo, na Suécia, a humanidade se depara com a perspectiva nem um pouco animadora da redução das condições propícias ao desenvolvimento da civilização na Terra. O que vem sendo alertado, pelo menos, desde a mencionada conferência da ONU, ganha cada vez mais relevância com a multiplicação dos efeitos das mudanças climáticas em curso, decorrentes do aumento da temperatura média global na superfície do planeta e nas águas dos oceanos – as correntes marítimas interferem diretamente no clima e seus fenômenos cíclicos. Chuvas torrenciais devastadoras, ondas de calor extremo e longos períodos de estiagem, furacões mais violentos, epidemias e pandemias geradas pelo desequilíbrio da biodiversidade, são algumas das consequências que já vivenciamos, e que tendem a se agravar e ser mais frequentes, segundos os cientistas.
Desde o advento do Homo sapiens, como aponta Yuval Harari, a biodiversidade planetária tem sido atacada e confrontada – pelos seres humanos, que impuseram o domínio à natureza como fator de sobrevivência. Há poucos séculos, essa imposição ganhou nova escala, a partir do lançamento de gases poluentes na atmosfera, perturbando as condições do habitat para quase todas as espécies animais e vegetais que compartilham conosco a existência na Terra. A forma como tratamos os demais viventes, e os riscos que passamos a concentrar para a nossa própria permanência nesse que já foi um imenso habitat, mas hoje se revela pequena ilha no oceano inóspito de uma galáxia vazia, não passam desapercebidos por muitos de nós. É a partir de tal percepção, crescente e valiosa, que o Dia Mundial do Meio Ambiente busca encontrar sentido, fazendo ecoar apelos para que sejamos capazes de parar a contagem regressiva de nossa autodestruição.
Em entrevista ao JC, em março, o físico escritor Marcelo Gleiser, professor titular de filosofia natural e física no Dartmouth College, nos Estados Unidos, autor de “O despertar do universo consciente”, criticou a noção de progresso infinito, e disse com todas as letras: “Chegou a hora de pagarmos a conta”. Defensor do biocentrismo, considerando sagrada a oportunidade da vida em um planeta, Gleiser afirmou na entrevista: “É profundamente ingênuo achar que podemos continuar a viver como estamos e que tudo vai dar certo, que as soluções tecnológicas vão nos salvar. Esse é o caminho para o desastre, com certeza. Precisamos agir, e essa ação começa com cada pessoa”. Para ele, um dos problemas da civilização é o esquecimento da nossa ligação com o corpo e com o mundo natural.
No Dia do Meio Ambiente, não é o planeta que precisamos pensar em salvar. A Terra já abrigou outras formas de vida, e poderá acolher outras, depois de nós. Para que a biodiversidade seja mantida com o privilégio da consciência humana, a reconexão com a natureza, na integração do corpo e da mente com tudo ao redor, surge como tarefa urgente para a atual e as próximas gerações.