DESMATAMENTO | Notícia

Brasil pegando fogo

Aumento de incêndios leva fumaça para grandes cidades e altera o cotidiano de parte da população, que se assusta com o risco à saúde

Por JC Publicado em 26/08/2024 às 0:00

A Polícia Federal já investiga mais de 30 casos suspeitos de incêndios florestais propositais, na Amazônia, no Pantanal e no estado de São Paulo este ano. Somente no interior paulista, 15 delegacias estão mobilizadas para apurar queimadas incomuns para o período, que têm provocado transtornos à população. Apesar dos prejuízos municipais e estaduais, o diretor da Polícia Federal, Andrei Rodrigues, lembra que os incêndios constituem danos federais que devem ser investigados pela PF. O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, por sua vez, declarou acreditar que a maioria dos incêndios florestais no país tem origem criminosa.
De 46 municípios em alerta máximo para o fogo, 21 estão com incêndios ativos, de acordo com o governo de São Paulo. No mês passado, a destruição de áreas extensas do Pantanal, no Mato Grosso do Sul, motivou até um sobrevoo do presidente da República. Que ainda não foi, mas deve ir nos próximos dias ver com os próprios olhos a fumaceira e as imensas fogueiras no solo paulista. Em Ribeirão Preto, moradores tiveram que deixar suas casas, e as aulas foram suspensas devido à fuligem e ao risco à saúde dos estudantes e profissionais das escolas. Em Goiás, foram registrados quase 900 focos de queimadas este ano, em comparação com menos de 500 no mesmo período, no ano passado. Voos estão sendo cancelados em Goiânia e a visibilidade está comprometida em Brasília, afetando, assim, o centro político do país. Na capital federal, aliás, não chove há mais de 4 meses, e os focos de incêndio passam de 4 mil no ano, número equivalente ao mesmo período em 2023. No terceiro mandato de Lula, até agora, apenas no DF, uma área equivalente a 9 mil campos de futebol foi queimada.
As queimadas no governo Lula remetem às críticas dos petistas à gestão de Jair Bolsonaro, pela mesma razão. Pior para os brasileiros, que enfrentam uma quantidade recorde de focos de desmatamento pelo fogo em 14 anos, sobretudo na Amazônia e no Pantanal. Os incêndios em São Paulo, por outro lado, levam a fumaça para o Centro-Oeste e o Sul, além do Sudeste, prejudicando a vida dos cidadãos em vários estados. Danos ambientais e econômicos se misturam à fumaça, em um país pegando fogo. De janeiro a agosto, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) já são mais de 100 mil focos de queimadas em todo o território nacional, mais da metade na Amazônia. É o maior número desde 2010. A área queimada de janeiro a julho – superior a 113 mil quilômetros quadrados - é a maior desde 2003, recorde, portanto, em duas décadas.
O corte de metade dos recursos no orçamento deste ano com destino ao combate aos incêndios florestais depõe contra o discurso oficial, e constrange a ministra Marina Silva, que busca manter a ênfase contra os focos criminosos, enquanto enxerga, certamente, no nevoeiro político, a falta de estrutura do governo para cuidar do problema.

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