Desta vez não é filme
O incêndio histórico que assusta a população nos Estados Unidos é mais um alerta da grave dimensão das mudanças climáticas em curso no planeta
Os ambientalistas protestaram, os cientistas avisaram, e até a Organização das Nações Unidas e suas entidades vêm tentando sensibilizar os líderes mundiais – da política e da economia – há décadas. Mas quando cenas como as da Amazônia em chamas e de Porto Alegre debaixo d’água, no Brasil, e da destruição de parte de Los Angeles pelo fogo, atingem o público do mundo inteiro, o choque da realidade se apresenta. Desta vez, os espectadores testemunham notícias verídicas, de fuga em massa, destruição em larga escala e problemas de longo prazo para se cuidar. O agravamento dos episódios extremos de fenômenos naturais, desta vez, não é filme de Hollywood – e olhem que foram muitos, forjando enredos e imagens chocantes de possíveis devastações causadas pelas mudanças climáticas.
Os depoimentos de moradores de Los Angeles – alguns brasileiros – remetem a um cenário assustador. Mais de 130 mil pessoas ficaram desabrigadas devido aos incêndios florestais de grande porte que avançaram sobre mansões que vale dezenas de milhões de dólares. A fumaça domina a paisagem, o odor sentido aguça a impressão surreal. A tecnologia de geolocalização ajuda, através de aplicativos que mostram as zonas de risco e alertam as pessoas para deixarem os locais afetados. Não fosse isso, o número de mortes – em uma dezena até ontem – poderia ser maior. Várias casas foram inteiramente queimadas, restando ruínas como na passagem de um furacão – de vento e fogo. Uma área de 137 quilômetros quadrados, equivalente a mais da metade da área do município do Recife, já se transformou em cinzas, levando pelo menos 10 mil edificações.
Para elevar a preocupação das autoridades e dos habitantes, os recursos hídricos precisam ser acessados rapidamente, em uma situação na qual a reserva de água pode ser tragada pelas chamas. Nada aconselhável para uma época de crescente saturação hídrica e pressão sobre as fontes de energia, com a temperatura média da Terra subindo, e os recursos e processos que configuram a vida e a biodiversidade sendo ameaçados de entrar em colapso. Mas para evitar a propagação dos incêndios, em Los Angeles e outras partes da Califórnia, a única saída é tentar reduzir a intensidade com água.
Nem a região da Calçada da Fama foi poupada da necessidade de isolamento, com a população e os turistas sendo aconselhados a evacuar imediatamente de onde estavam. Carros e estruturas queimadas ao longo da via costeira em Malibu aprofundam a sensação de Apocalipse. Um xerife de Los Angeles, Robert Luna, resumiu a aflição coletiva: “Parece que caiu uma bomba atômica”, disse. Apesar da proliferação da insensatez bélica que se espalha no planeta tão celeremente quanto o desequilíbrio ambiental, não, ainda não foi. Mas a vida real cada vez se assemelha mais à ficção das distopias do cinema, no pior dos mundos possíveis.