Pólvora acesa não brota do chão

Do Hamas ao Hezbollah, da Faixa de Gaza ao Líbano: com o apoio dos EUA, o governo israelense aprofunda o risco de guerra generalizada na região

Publicado em 25/09/2024 às 0:00

Se há que se manter a origem da atual escalada de bombas e mortes no Oriente Médio, após a invasão de Israel pelos terroristas do Hamas, quase um ano atrás, também é preciso levar em conta a estratégia belicista que não se compadece das populações dos lugares em onde o terror se esconde. O governo de Benjamin Netanyahu escolheu o caminho da violência patrocinada pelo Estado, no combate sistemático às máquinas dos grupos terroristas, com o apoio das Casa Branca. Até porque os Estados Unidos já fizeram o mesmo antes, algumas vezes, e os exemplos serviram de modelo para a determinação do atual primeiro-ministro israelense. Mas a mistura dos alvos – entre criminosos e os inocentes que são a maioria das vítimas, inclusive mulheres, crianças e idosos – já despertou a indignação de boa parte do mundo, sem que Netanyahu se demova de passos cada vez mais irreversíveis na direção do confronto com os países vizinhos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) reúne o Conselho de Segurança, após a Assembleia Geral, sem que se tenha grande expectativa de qualquer interferência de porte na escalada. Mesmo assim, no topo da diplomacia global em plena atuação, permanece a esperança de redução das tensões numa região crucial para a economia e a geopolítica do planeta. Embora Israel siga afirmando que não pretende a guerra contra o Líbano, as famílias das mais de 500 vítimas fatais e 2 mil feridas, e toda a população libanesa, podem pensar o contrário, diante da perda de vidas pelos ataques israelenses, e da fuga de suas casas, bem como da suspensão de aulas nas escolas e universidades. Por causa da represália do Hezbollah, os israelenses do norte também são obrigados a mudar a rotina, e buscar abrigos contra os mísseis.
A entrada oficial do governo libanês no conflito, assim como do iraniano, complicaria ainda mais o cenário em vias de descontrole. Por isso, cumprindo o papel que se arroga, o governo norte-americano já enviou mais tropas, armas e navios de guerra para o Oriente Médio, à espreita do pior. Resta saber se a participação da força direta dos EUA seria capaz de impedir algo, ou apenas acelerar o rastilho de pólvora acesa. Em sinal paralelo de degradação da paz, a Embaixada norte-americana no Líbano sugeriu a saída do país a seus cidadãos, por causa do agravamento da situação. Na sede da ONU, os discursos devem continuar em tom de alerta, acompanhando os mísseis que cruzam o céu e as explosões nos territórios do Líbano e de Gaza.
A quantidade e a potência dos armamentos, na troca de ameaças materializadas em fogo, fumaça e sangue, impressionam pelo custo financeiro depositado na indústria da guerra e da morte. Sobre isso, aliás, pouco se ouve nos fóruns da ONU: a conta dos avançados sistemas de defesa e ataque cresce, oficialmente, e nunca faltam armas aos grupos terroristas. A pólvora não brota do chão.

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