Na estação sem destino

Ano de 2024 vai chegando ao fim da linha sem que o transporte metroviário tenha recebido a atenção e os investimentos demandados pela população

Publicado em 18/12/2024 às 0:00
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As notícias parecem repetidas, mas não são. A frequência com que o Metrô do Recife – que serve, ou deveria servir, a toda a Região Metropolitana da capital – vem ficando com linhas fora de uso e estações fechadas, faz do transporte um transtorno para a população pernambucana. Na terça, 17, quatro estações da Linha Centro permaneceram sem funcionar, por causa de um problema técnico em um dos trens. Os problemas técnicos, assim como os furtos de cabos, sim, se repetem, sem que a gestão da CBTU, órgão federal responsável pelo equipamento, seja capaz de solucionar a questão – que não depende da seriedade dos funcionários do órgão, e sim de decisões políticas em prol da mobilidade do cidadão metropolitano. Decisões que faz tempo que não são tomadas, de maneira efetiva, para além das visitas protocolares de inspeção com parlamentares e burocratas que moram em Brasília, ou de discursos que não retiram a boa intenção da estação sem destino.
Em situação de penúria financeira há uma década, o que era para ser o modal de transporte de melhor custo-benefício para a população se tornou motivo de estresse, e até de medo, pela insegurança acoplada ao funcionamento de um metrô sucateado. Abandono, desinteresse, omissão, descompromisso: não faltam palavras para associar à indignação dos usuários que, na falta de opção, migraram maciçamente para os serviços de transporte por aplicativo, especialmente por motos. A consequência direta dessa escolha por falta de opção é a epidemia de sinistros no trânsito envolvendo motocicletas, seus condutores apressados e imprudentes, e passageiros necessitados e imprevidentes. A culpa anterior, antes da ocorrência dos sinistros, é das autoridades públicas, a começar do governo federal que faz de conta que se importa com os pernambucanos, esquecendo solenemente a tragédia do sistema metroviário.
As interrupções na operação sobrecarregam o sistema de ônibus, que já não é tão apreciado assim pelos usuários, mesmo quando o Metrô se encontra em pleno funcionamento. Daí a preferência pelas motos que vendem caronas e riscos, superlotando os hospitais e deixando marcas, para muitos, pelo resto da vida. A
superintendente do Metrô do Recife, Marcela Campos, lamenta as quebras e paralisações, lembrando que a falta de manutenção adequada é a realidade há muito tempo. Ela disse ao JC que “faltam peças e equipamentos”, e que “o governo federal tem conhecimento das panes do sistema”. O que o governo federal não parece ter é interesse pelo assunto.
Enquanto nada muda, a governadora Raquel Lyra voltou a afirmar que a gestão do Metrô será estadualizada e concedida à iniciativa privada para sua operação. A governadora observa que se trata de “um sistema primordial que não tem mais qualquer previsibilidade”. O maior problema para o retorno aos trilhos é o passivo acumulado, estimado em mais de R$ 3 bilhões, para recuperar e equilibrar o Metrô antes de ir para a operação privada. A expectativa é proporcional à descrença, ao longo de tantos anos.
Sem recursos garantidos, tudo vai ficando na mesma estação dos esquecidos.

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