Editorial JC: Inflação volta a crescer
Maior índice mensal em mais de duas décadas desperta a preocupação do governo federal – e da população que viveu o drama da espiral inflacionária

A corrosão no poder de compra dos cidadãos e o efeito de contenção nos investimentos faz com que a inflação seja o mais perverso e temido efeito da desestabilização da economia. Consequência que pode se transformar numa espiral de fatores complicadores para a estabilidade econômica, exigindo remédios amargos como juros altos, e provocando danos estruturais de longa duração. No século passado, diversos países atravessaram a experiência traumatizante da hiperinflação, inclusive o Brasil, que passou por uma série de planos de estabilização fracassados, antes do Real. Implementado por etapas, a nova moeda rendeu a Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda, a presidência da República por dois mandatos consecutivos – entregando a faixa para Lula, em seu primeiro mandato, na esteira do sucesso do controle inflacionário.
No mês passado, a inflação oficial medida pelo IPCA do IBGE registrou o pior resultado em 22 anos para fevereiro, chegando a 1,31%, sendo também a maior variação desde março de 2022. No acumulado em 12 meses, o país volta a observar a alta de preços acima de 5%, superando a meta de 3% do Conselho Monetário Nacional pelo quinto mês consecutivo. Apesar do crescimento, a situação que escapa ao planejamento reflete o aumento de quase 17% na tarifa de energia elétrica residencial, com desdobramentos sobre toda a economia. Como o Banco Central não projeta mudança significativa do quadro inflacionário até junho, é possível que as metas venham a ser refeitas, para se adequarem à realidade – denunciando, ainda que por pequena margem até agora, o descontrole da inflação longe das metas definidas.
A disparada nos preços dos alimentos, que gerou o corte na taxação de importação de dez produtos da mesa dos brasileiros, é outra preocupação da equipe econômica do ministro Fernando Haddad, e certamente não sai do radar dos planejadores do Planalto. A instabilidade inflacionária é um risco que o governo federal não pretende correr, fazendo cálculos políticos a um ano e meio da deflagração do processo eleitoral de 2026. A queda na popularidade do presidente Lula e de seu governo, detectada nos últimos meses, é atribuída, em parte, ao peso da inflação no bolso da população.
Quando a inflação aparece, o estilo de vida muda para pior, com as pessoas procurando alternativas de alimentos e serviços que faziam parte da rotina. A economia inflacionada pressiona para baixo o bem-estar coletivo, deixando a maioria dos indivíduos e das famílias em situação difícil para equilibrar necessidades e renda. Quem ganha menos, sente muito mais as dores de um cotidiano de preços mais altos hoje do que ontem, sucessivamente.
A redução do poder aquisitivo se torna um problema agudo, com enorme impacto social: a inflação deixa todos mais pobres, e os mais pobres, suscetíveis às agruras da miséria.
Para piorar, um governo sem pendor ao controle dos gastos públicos tem o agravante de contribuir para a escalada inflacionária, transmitindo dívidas públicas que contaminam toda a economia.
Confira a charge do JC desta quinta-feira (13)