Editorial JC: Exemplo de líder mundial
Recuperação da saúde é grande notícia e alívio para o mundo inteiro, e não apenas para a comunidade católica, pela postura firme e sensata do Papa

No conturbado cenário político global, uma questão recorrente vem a ser a escassez de lideranças capazes de galvanizar a opinião pública internacional, para além dos interesses de seu país de origem. Problemas como os conflitos na Faixa de Gaza e na Ucrânia não parecem fáceis de resolver, entre outros fatores, pela inexistência de personalidades talhadas para a formação de consensos, a partir da sensibilização coletiva envolvendo argumentos sensatos que também comovam as pessoas.
Os principais líderes atuais estão em cena há décadas, o que aponta para a baixa renovação de quadros políticos, numa época que assiste à pouca influência de entidades criadas para defender e valorizar os direitos da humanidade, sem distinções.
Até a Organização das Nações Unidas (ONU) enfrenta, há vários anos, a redução de respeitabilidade e eficiência em suas deliberações, algumas solenemente ignoradas pelos governos nacionais. É nesse contexto favorável às radicalizações que proliferam, e provocam a assustadora aliança entre radicais, que a perspectiva de restauração da saúde do Papa Francisco aparece como alívio para o mundo.
Uma das raras vozes que não se calam diante dos descalabros, o argentino Jorge Mario Bergoglio, descendente de italianos, exerce o papel como Sumo Pontífice da Igreja Católica falando para todos os povos e credos do planeta, com sinceridade e firmeza, há 12 anos.
Dos apelos ao fim dos conflitos armados para a profusão de crimes de guerra, aos alertas diante da crise climática e ambiental em curso, o Papa Francisco é um baluarte de equilíbrio e razão, em tempos de instabilidade e imprudência.
Depois de mais de um mês internado, o Papa fez uma aparição pública, agradecendo as orações por seu restabelecimento. Aos 88 anos e visivelmente fragilizado, Francisco vai continuar em casa, no Vaticano, o tratamento da enfermidade respiratória grave, após a bronquite que o levou ao hospital. A recomendação médica é de pouco trabalho e repouso máximo por pelo menos dois meses, período no qual a interação com o público deve ser bastante restrita.
Mesmo assim, a presença possível do Papa Francisco é um alento, pois o mundo sente falta de suas manifestações de bom senso, em contraponto às sandices das lideranças dos países, em especial das potências bélicas, cada vez mais afeitas à força bruta que dilapida e degrada a humanidade.
Tão crítico da própria Igreja quanto da conjuntura mundial, o pontífice é um exemplo de líder que deve inspirar as novas gerações – de católicos, crentes de outras religiões e de ateus. Aberto ao contraditório e de espírito livre o suficiente para enxergar para fora dos muros do Vaticano, defensor das minorias e referencial de simplicidade, apesar do posto que ocupa, Francisco é um alento no tormentoso vácuo de lideranças em que nos encontramos. Que logo possa voltar a falar para as multidões, e seja mais escutado por aqueles que costumam tomar péssimas decisões.
Confira a charge do JC desta segunda-feira (24)
