PANDEMIA

Coronavírus não barra o amor, mas exige novas formas de celebrar

A covid-19, que já infectou mais de 1,5 milhão de pessoas no mundo, não consegue barrar celebrações importantes. Mas diante do isolamento social, as festas ganham novos formatos

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 12/04/2020 às 5:31 | Atualizado em 15/04/2021 às 14:51
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Em vez de 150 convidados, casamento de Juliana e Tadeu contou com sete pessoas - FOTO: DIVULGAÇÃO

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O novo coronavírus separou fisicamente parentes e amigos. Mas o vírus que já matou mais de 100 mil pessoas e infectou mais de 1,5 milhão no mundo não conseguiu barrar celebrações de datas importantes. As festas apenas ganharam novos formatos, pois uma das medidas para evitar a transmissão da doença é o isolamento social.

Neste domingo de Páscoa, por exemplo, famílias cristãs que normalmente se reuniriam para celebrar a vida nova, terão que encontrar meios de reafirmarem que estar presente independe de estar perto. Como contam Grasiela, Daniel, Altair, Andréa, Juliana e Tadeu.

Nas histórias a seguir, eles mostram ser possível comemorar aniversário, casamento ou nascimento distante de quem se ama. A tecnologia pode até ajudar. Mas o que vale, no final, são a criatividade e o empenho para demonstrar os sentimentos.

CASAMENTO ADIADO E CELEBRADO

"Tudo certo para o casamento?". "Como estão os preparativos?". Faltando cinco dias para seu matrimônio com o executivo Tadeu Lemos, 30, marcado para 21 de março, a farmacêutica Juliana Gomes, 32 anos, começou a receber mensagens e ligações de amigos perguntando pela festa. Não era pra menos: naquele mesmo dia, o governador Paulo Câmara havia proibido eventos em Pernambuco com mais de 50 pessoas, uma das medidas para evitar a transmissão da covid-19.

"Meu mundo desabou. Só fazia chorar. Meu casamento estava 100% pago, vestido pronto, flores encomendadas, convidados que vieram de São Paulo já tinham chegado. Mas basta um sopro de Deus e tudo muda. Tivemos que adiar para setembro por causa do coronavírus", conta Juliana, que mora em Carpina, na Zona da Mata.

Mesmo sabendo que a cerimônia iria acontecer, ela ficou triste e angustiada. "Na minha cabeça estava tudo certo para eu e Tadeu nos mudarmos na segunda-feira depois do casamento para nossa casa, como marido e mulher, e começarmos uma nova família", comenta Juliana. Vendo a decepção da noiva, Tadeu sugeriu que chamassem o bispo da Igreja Episcopal Carismática para abençoá-los na data inicialmente prevista.

E assim foi. Em vez de 150 convidados numa casa de festas, o sim deles aconteceu na sala da casa dos pais de Juliana. Com a presença deles e mais quatro pessoas. Os pais de Tadeu, idosos e um dos grupos de risco da covid-19, acompanharam virtualmente. Um bolo, alguns doces e um almoço para celebrar o novo casal.

À noite, Juliana e Tadeu tiveram uma surpresa: a família organizou uma live com todos os convidados e o cantor Rafa Mesquita. "Foi incrível. Cantamos e dançamos muito, de longe, com nossos amigos e familiares. Eles tornaram o nosso casamento ainda mais feliz."

CONEXÃO E FÉ NA VIDA NOVA

Seis meses atrás, em novembro do ano passado, quando o novo coronavírus não era notícia no mundo e João Pedro estava tranquilo na barriga da mãe, sua chegada começou a ser planejada. A data do parto cesáreo, agendada para 3 de abril deste ano, foi escolhida por cair numa sexta-feira, dia perfeito para comemorações.

Logo o pai, Daniel Farias de Azevedo, 36 anos, ligou para a maternidade e reservou a suíte especial da unidade de saúde. Festeiro, com família grande e muitos amigos, tratou de garantir mais espaço para celebrar o segundo filho em grande estilo, como fez com o primogênito, Daniel Filho, 3. A mãe, Grasiela Santos, 38 anos, contratou fotógrafo, decoração, bolo, docinhos, lembrancinhas. Também queria repetir a festa de boas vindas para o segundo bebê que carregava no ventre.

Na penúltima consulta à obstetra antes do parto, em meados de março, a notícia de que nada mais daquilo que tinham programado com tanto carinho seria permitido. Com o avanço da covid-19, as restrições eram necessárias.

"Já imaginávamos que por causa da doença, do risco de contágio, teríamos que diminuir a festa, mas não totalmente. O que me deixou mais arrasada foi saber que nem minha mãe, meu porto seguro, poderia estar na maternidade. A médica disse que só seríamos eu e Daniel", conta Grasiela. Embora frustrados, pais, avós, tios e amigos entenderam a importância de preservar a saúde deles e do pequeno que iria nascer.

Para não passar em branco, Grasiela levou alguns balões, um enfeite com o nome do filho, um boneco de elefante (que seria o tema da festa) e uma imagem de Nossa Senhora.

"Eu estava com muita expectativa para ver a reação de Dandan ao ver o irmão no berçário. Tive que esperar até o domingo, quando chegamos em casa. O sentimento de alegria por ter meu segundo filho saudável foi imenso, mas lamentei não comemorar no hospital, como fiz com o primeiro. Umas 60 pessoas nos visitaram na maternidade quando ele nasceu", relembra o pai Daniel. A farra foi tão grande, em maio de 2016, que começou à tarde e acabou de madrugada.

A festa para João Pedro estava orçada em cerca de R$ 8 mil. Com o cancelamento, o casal ligou para os profissionais que tinham contactado avisando que não haveria mais nada. "Todos entenderam a justificativa. Só havíamos pago metade da decoração, R$ 500. Ficou como crédito para uma próxima festa, que faremos, com certeza, quando tudo isso passar", garante Daniel.

Grasiela ressalta que reafirmou uma certeza. "Deus escuta o que a gente pede e fala. Eu já havia comentado com meu marido que queria, para João Pedro, uma festa menor. Porque no nascimento de Daniel Filho foi tanta gente no quarto que quase não peguei nele. Sofri para amamentar no início. Desta vez, fomos só nós três. Celebramos também, mas com momentos de mais conexão e fé", comenta Grasiela.

ANIVERSÁRIO NA VARANDA

Para comemorar seu aniversário, Altair Magalhães de Almeida, 99 anos, gosta de comprar toalha nova para a mesa e roupa para ela. Faz questão também de ir para cozinha preparar pasteis de nata. Recebe amigos e a família, todos anos, em seu apartamento no bairro das Graças, Zona Norte do Recife, onde mora com um dos oito filhos. Organiza tudo com antecedência. Neste ano, o dia 21 de março foi de casa vazia por causa da pandemia. Mas não de tristeza.

Com cartazes, seus filhos e netos foram para baixo do edifício. Mandaram um bolo pelo elevador. Da varanda, Altair acompanhou a surpresa. Além do tradicional Parabéns pra você, os parentes cantaram marchinhas de Carnaval, canções de que ela gosta muito. Para completar, pediram ajuda aos vizinhos de Altair. Por meio de mensagens pelo whatsapp, combinaram que quem pudesse fosse também para varanda no mesmo horário.

Uma das vizinhas, Renata Reynaldo, foi até os condomínios da frente, explicou a homenagem aos porteiros e solicitou que eles avisassem aos moradores. Resultado: muitos acompanharam a festa de suas varandas e participaram da surpresa cantando os parabéns.

"Minha mãe é muito ativa, gosta de sair, ir ao cinema, caminhar. Mas devido à idade, está isolada para não correr o risco de adoecer. Por isso, decidimos comemorar à distância. Tudo simples, mas com muita alegria, bem no espírito dela", comenta uma das filhas, Andréa Magalhães, que teve a ideia de convidar os vizinhos.

"Nunca pensei que chegaria aos 99 anos. Fiquei triste porque não teria festa, mas me conformei. Estava vendo televisão quando o porteiro pediu para eu ir na varanda. Foi muito emocionante", diz Altair.

Questionada se a comemoração dos 100 anos, em 2021, será ainda mais animada pelo fato de nos 99 não ter tido a festa que queria, ela é cautelosa. "Deixa eu chegar lá. A gente só passa pelo rio quando atravessa a ponte. Espero vencer essa batalha (da pandemia) que estamos vivendo."

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