JORNAL DO COMMERCIO - O senhor já declarou que, sem uma rede de saúde pública e universal, os efeitos da pandemia seriam muito mais devastadores para o País. Como a estrutura do SUS tem impactado no enfrentamento do coronavírus no Brasil?
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MINISTRO LUIZ HENRIQUE MANDETTA - O SUS está em todo o País. Cada município tem, pelo menos, um posto de saúde. Ali, nós podemos atender até 90% dos casos do covid-19. Ainda, estamos ampliando o horário de atendimento de 6,7 mil desses postos. Hoje, temos uma rede estruturada, que podemos contar para atender os demais casos. Para isso, estamos nos preparando, com leitos, materiais de proteção individual, contratação de médicos, capacitação e orientações, entre outras ações. A rede será muito demandada e levada ao seu limite. Mas, sem dúvida, é um diferencial em relação aos demais países que estão enfrentando o vírus.
JC – O senhor defende o fechamento das fronteiras brasileiras, como forma de evitar a disseminação do vírus, a exemplo do que fizeram vários países europeus?
MANDETTA - O vírus entrou no País não pela entrada de estrangeiros, mas de brasileiros vindos do exterior. Então essa questão não é tão simples. Uma vez que a epidemia chega, a gente tem que adotar medidas para reduzir a velocidade com que as pessoas são contaminadas, porque se todos forem ao mesmo tempo para os hospitais não haverá leitos para todos - pelo menos é o que vem acontecendo em todos os países.
JC – A disponibilidade de leitos de UTIs é um dos principais gargalos para a assistência dos pacientes graves infectados com o vírus, sobretudo diante da desigualdade regional da oferta de vagas. Que medidas o Ministério da Saúde pretende adotar para garantir o acesso a essas vagas? Existe a possibilidade do SUS assumir a gestão dos leitos privados,mediante decreto, por exemplo?
MANDETTA - A possibilidade de assumir leitos privados mediante decreto é algo que eu não vejo razão. Nós estamos em negociação com a rede privada, para que ela atenda aqueles que têm plano de saúde, para que use os protocolos de Vigilância, para registrar os casos. Já o SUS possui hoje cerca de 27 mil leitos de UTI. Na rotina, 78% deles estão ocupados. Recomendamos medidas para melhorar o critério de uso desses leitos e para a suspensão de cirurgias que não sejam de emergência, diminuir essa ocupação e oferecer leitos aos doentes da epidemia. Além disso, contratamos 2.000 leitos volantes de instalação rápida, que podemos usar ao longo da crise. Os Estados que abrirem novos leitos poderão contar com o recurso do Ministério da Saúde para o custeio. A chave de tudo isso, no entanto, está em diminuirmos a velocidade de contágio da doença. Portanto, contamos com a consciência de cada um.
JC - Os investimentos no SUS foram fortemente impactados com medidas de cortes orçamentários, como o Teto de Gastos. O senhor acredita que uma das lições dessa epidemia será a de mostrar que essa é uma área que não pode ser descontingenciada? Para além do socorro emergencial, os resultados desse enfrentamento podem vir a blindar o SUS de futuros cortes?
MANDETTA - A saúde não sofre corte de gastos. Ela é protegida por uma emenda constitucional. Assim, foi a execução de 2019 e a previsão de 2020. Um esforço adicional do governo federal e do Congresso Nacional já alocou R$ 10 bilhões para resposta brasileira ao covid-19. Quando mais recursos forem necessários, diversas áreas estão se mostrando sensíveis em apoiar a saúde.
JC - O SUS sairá maior de toda essa crise?
MANDETTA – Todos sairemos diferentes desta pandemia. Temos que agradecer especialmente aos profissionais de saúde que estarão na linha de frente do atendimento à população. Sairemos maiores no nosso esforço conjunto de proteger e cuidar dos brasileiros.
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