Evasão escolar

Busca ativa e avaliação são prioridades na retomada das aulas presenciais

Secretários estaduais e municipais de Educação discutem a adoção de uma série de estratégias para reduzir o impacto de meses de distanciamento físico

Ciara Carvalho
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Ciara Carvalho
Publicado em 25/07/2020 às 17:40
BRENDA ALCÂNTARA/JC IMAGEM
SEM MOTIVAÇÃO Vitória não está conseguindo acompanhar as aulas remotas oferecidas na pandemia - FOTO: BRENDA ALCÂNTARA/JC IMAGEM
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O desafio de motivar o aluno a permanecer na escola, depois de meses de afastamento físico por causa da covid-19, exigirá de secretários estaduais e municipais de Educação a adoção de uma série de estratégias que ultrapassam o alcance da pasta. O entendimento entre os gestores é de que será fundamental combinar políticas públicas, que enxerguem as necessidades do aluno para além da sala de aula. Na área educacional, projetos de busca ativa e processos de avaliação para identificar o nível de conhecimento dos estudantes na volta às aulas já estão na lista de prioridades. Para além do ambiente escolar, educadores discutem a importância da criação de um projeto de renda que dê algum suporte não só ao aluno, mas também às suas famílias, sobretudo as mais vulneráveis.

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Essa tem sido uma das discussões levantadas com afinco pelo professor Mozart Neves Ramos, coordenador da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP). O educador defende que, sem uma ajuda financeira, será mais difícil, principalmente para os alunos do ensino médio, conseguir continuar na escola, diante da necessidade de levar dinheiro para dentro de casa. "O governo terá que fazer uma grande mobilização social para ajudar a gerar renda para os pais desses alunos, principalmente os mais pobres e de menor escolaridade." Mozart Neves cita, por exemplo, a estratégia de capacitar trabalhadores para atuar em serviços que não exigem tanta qualificação e estão com demanda crescente no mercado. "Há plataformas hoje que já estão fazendo isso. Identificando para onde estão indo as vagas e treinando pessoas para atendê-las. O serviço de delivery é um deles", pontuou.

Vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), o secretário estadual de Pernambuco, Fred Amancio afirmou que umas das primeiras preocupações, com a retomada das aulas presenciais, será o acolhimento de alunos e professores, visando trabalhar a parte emocional de profissionais e estudantes. "Essa etapa é essencial para o processo de readaptação ao ambiente escolar. Tudo será feito de forma lenta e gradual, para que o impacto de tantos meses distantes fisicamente seja reduzido ao máximo", explica.

PROTOCOLOS

Fred Amancio disse que Pernambuco foi um dos primeiros Estados a discutir um protocolo de retorno , já propondo um diagnóstico para o momento da retomada. Sobre a estratégia de busca ativa, o secretário afirmou que o protagonismo será de cada escola, já que são elas que fazem a ponte direta com os alunos e as famílias. "Vamos identificar os alunos que não voltaram, mas respeitando todas as especifidades. Serão muitas situações e todas precisam ser acompanhadas, caso a caso."

Apesar de ressaltar que caberá à Saúde determinar o momento ideal para a volta às aulas, ele diz que o retorno ainda este ano é muito importante para manter os laços dos alunos com a escola. "As aulas remotas, mesmo com todos os esforços, possuem limitações. A volta ao ambiente escolar reduz o risco de perdermos esse aluno."

O depoimento de Vitória Tomé de Santana, 18 anos, confirma a preocupação do secretário. Moradora de Beberibe, na Zona Norte do Recife, a jovem não acompanhou nenhuma das atividades remotas passada pela escola. "Não estou mais estudando, fiquei sem paciência. Sei que vai ser péssimo pra mim, porque não vou saber de nada quando as aulas voltarem", reconhece Vitória, admitindo a falta de motivação para pegar nos livros.

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