FOGO CRUZADO

Número de pessoas mortas e feridas por arma de fogo no Grande Recife mais que dobrou em julho, segundo plataforma

Relatório da plataforma Fogo Cruzado apontou aumento significativo em números de tiroteios e disparos, além de pessoas mortas ou feridas por armas de fogo

Carolina Fonsêca
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Carolina Fonsêca
Publicado em 03/08/2020 às 22:16 | Atualizado em 03/08/2020 às 22:20
Foto: Brett Hondow / Pixabay
Os suspeitos chegaram fingindo que estavam em busca de informações. Em seguida, um dos homens sacou a arma e anunciou o assalto - FOTO: Foto: Brett Hondow / Pixabay

Julho de 2020 teve um aumento de 117% no número de pessoas feridas por disparos de arma de fogo no Grande Recife - em comparação com o mesmo período de 2019. Os dados são da plataforma Fogo Cruzado, que registrou 160 tiroteios/disparos neste período, deixando 108 mortos e 72 feridos. Em 2019, os 84 tiroteios/disparos registrados no mesmo mês deixaram 64 pessoas mortas e 26 feridas. 

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O ranking da violência armada foi liderado, mais uma vez, pelo Recife, com 58 registros de tiroteios ou disparos por armas de fogo. Em segundo lugar, está o Cabo de Santo Agostinho, com 19 registros, seguido por Jaboatão dos Guararapes também com 19 e Paulista com 14. Segundo a plataforma, as vítimas compõem um perfil muito jovem, sendo a maioria do sexo masculino.

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Em relação aos bairros, os mais afetados por tiroteios são do Recife: Jardim São Paulo e Ibura, na Zona Oeste e Zona Sul, respectivamente. Em seguida estão Ponte dos Carvalhos, no Cabo de Santo Agostinho, e Várzea, na Zona Oeste do Recife, ambos com quatro registros cada.

De acordo com a Fogo Cruzado, a plataforma já presenciou portarias interministeriais que visam enfraquecer o rastreamento de armas e munições, que, para ela, são questões "bastante graves". "O Brasil tem uma política desde 2004 que é o Instituto do Desarmamento e ainda assim já é bem difícil fazer o rastreamento de armas e munições. Agora, com essas flexibilizações, fica mais difícil ainda", disse Edna Jatobá, coordenadora executiva do Gajop (Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares), que hospeda a plataforma Fogo Cruzado.

Para a plataforma, que acompanha de perto a violência causadas por armas de fogo, o futuro é visto com preocupação. "Tudo isso aponta para um cenário grave e preocupante. O contexto já é uma chaga e com esse descontrole tememos pelo pior", desabafou Jatobá. 

A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) foi procurada para comentar os números da Fogo Cruzado, mas não respondeu até a publicação desta matéria. Assim que a resposta for enviada ao JC, a matéria será atualizada.

Quem são os mortos e feridos por arma de fogo no Grande Recife?

Dentre o total de mortos no Grande Recife em julho (108), 107 eram homens e apenas uma era mulher. Entre os feridos (72), 59 eram homens e 11 eram mulheres.

Do total de baleados em julho (180), três eram crianças (até 12 anos incompletos), sete eram adolescentes (entre 12 e 18 anos incompletos) e três eram idosos (a partir de 60 anos): destes, dois adolescentes e um idoso morreram.

No mesmo período de 2019, foram seis adolescentes e três idosos baleados, marcando um aumento de 17% no número de adolescentes baleados em julho deste ano. Entre as vítimas de julho deste ano está um adolescente de 17 anos e um homem de 19 anos, baleados em um tiroteio no Beco da Consolação, em Itapissuma, no dia 27. Na mesma ocasião, uma criança de 7 anos foi atingida por uma bala perdida na perna. Todos foram socorridos e sobreviveram aos ferimentos.

Mais detalhes sobre a violência armada no Grande Recife no mês de julho

Dos 160 tiroteios registrados em julho, em apenas 7% não houve baleados - enquanto 63% dos registros (100 tiroteios) teve mortos e em 36% (58 tiroteios) houve feridos. 

Pessoas baleadas dentro de suas residências

As armas de fogo também fazem vítimas que estão dentro de suas casas. Durante julho de 2020, 25 pessoas foram baleadas dentro de residências - 18 morreram e 7 ficaram feridas. Houve um aumento de 92% de pessoas baleadas em casa, se comparado ao mesmo período do ano passado, quando 13 pessoas foram baleadas dentro de casa - 11 morreram e duas ficaram feridas. 

Em 30 de julho, Romério Santana de Lima, de 29 anos, foi morto a tiros dentro de casa no Loteamento São João e São Paulo, em São Lourenço da Mata. Na mesma ocasião, Tiago Carlos da Silva Macedo, de 19 anos, tentou fugir mas foi alcançado e morto a tiros no quintal de uma outra casa vizinha.

Houve ainda seis casos de homicídios múltiplos em julho, com 14 mortos no total - destes, todos eram homens. Em julho de 2019, foram dois casos que deixaram quatro mortos no total. No dia 9, Diego Lopes Silva e outros dois homens não identificados, foram mortos a tiros dentro de casa enquanto dormiam, na Rua João Amazonas, no bairro da Rubina, em Igarassu.

Bala perdida 

Julho também teve seis pessoas atingidas por bala perdida no Grande Recife - felizmente nenhuma delas morreu. Comparado ao mesmo mês de 2019, quando duas pessoas foram vítimas de bala perdida, o aumento foi de 200%.

No dia 11, uma mulher não identificada e uma criança de três anos foram atingidas por bala perdida ao passarem nas proximidades de um bar localizado no bairro da Charneca, no Cabo de Santo Agostinho, onde um homem, também não identificado, foi morto a tiros.

Tiros dentro de bares

Sete pessoas foram baleadas dentro de bares - duas morreram e cinco ficaram feridas. Em 25 de julho, dois homens não identificados foram baleados em um bar, no centro de Camaragibe. Ambos sobreviveram.

Como funciona o laboratório de dados do Fogo Cruzado

O Fogo Cruzado é uma plataforma digital colaborativa que registra a incidência de violência armada nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e do Recife por meio de um aplicativo para a tecnologia mobile combinado a um banco de dados.

Além de receber notificações de usuários diretamente via aplicativo, a equipe de gestão de dados do Fogo Cruzado recebe informações diretas de parceiros que atuam in loco - neste caso só são consideradas fontes conhecidas, com as quais já existe relacionamento prévio, como coletivos, comunicadores e moradores ativos localmente.

A equipe do Fogo Cruzado também adiciona às bases de dados as informações recolhidas via imprensa e canais das autoridades policiais. Vale notar que as notificações publicadas no mapa do Fogo Cruzado no site são sinalizadas de acordo com suas fontes.

Quando chega a notificação de um tiroteio/disparo de arma de fogo, esta informação não é automaticamente publicada no mapa e nas redes sociais. Imediatamente, a equipe de gestão de dados cruza a notificação com scripts e filtros desenvolvidos para agregar informações em redes sociais sobre disparos de arma de fogo na região metropolitana do Rio de Janeiro e Recife.

Desta forma, é possível saber quem, quando e onde está se falando sobre o assunto de forma a cruzar informações sobre um mesmo tiroteio/disparo de arma de fogo. Após tal verificação, a notificação é postada nas redes e o incidente fica em registro público no site e app.

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