MANIFESTAÇÃO

Barraqueiros de praia fecham orla de Boa Viagem, no Recife, em protesto por volta de atividades

Comerciantes estão impedidos de trabalhar desde desde março, quando a pandemia do coronavírus chegou a Pernambuco

JC
Cadastrado por
JC
Publicado em 20/08/2020 às 11:08 | Atualizado em 20/08/2020 às 21:21
WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
Grupo fechou Avenida Boa Viagem na altura do quiosque 38 - FOTO: WELINGTON LIMA/JC IMAGEM

Atualizada às 20h58

"Queremos trabalhar". A frase, erguida em cartazes por barraqueiros de praia do Recife e Jaboatão dos Guararapes, dá o tom do protesto realizado na manhã desta quinta-feira (20). Os comerciantes fecharam a Avenida de Boa Viagem, na altura do quiosque 38, próximo à Pracinha de Boa Viagem, na Zona Sul da capital pernambucana, em reivindicação pela retomada da atividade - paralisada desde março por conta da chegada da pandemia do novo coronavírus a Pernambuco. É a segunda vez em menos de uma semana que o segmento faz manifestação no local. Apesar de as praias estarem abertas para banho de mar, prática de atividades físicas e quiosques, o comércio na faixa de areia ainda não foi permitido nos municípios. Os barraqueiros liberaram a avenida no início da tarde.

Governo inclui volta do comércio na faixa de areia na próxima etapa do Plano de Convivência com a Covid-19, mas não informa data

Depois da manifestação em Boa Viagem, o secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Bruno Schwambach, disse, em entrevista coletiva, que a atividade dos comerciantes na faixa de areia está prevista para ser incluída na próxima etapa, a 8, do Plano de Convivência com a Covid-19. Contudo, Shwambach não anunciou a data prevista para que a Macrorregião de Saúde I poderá avançar para essa fase. Atualmente, a região está na 7ª etapa do plano de convivência. O secretário também destacou que o Governo do Estado está em diálogo com representantes do setor para atualizar o protocolo para reabertura dessas atividades na praia.

» Veja painel com os casos e mortes por covid-19 em Pernambuco

» Mesmo com proibição, barraqueiros montam estruturas na Praia de Porto de Galinhas

» Ipojuca critica Estado por não ter finalizado protocolo sobre retomada de comércio na Praia de Porto de Galinhas

» Barraqueiros protestam pela liberação do comércio informal na praia de Boa Viagem, no Recife

Presidente da Nova Associação dos Comerciantes e Microempreendedoras da Orla de Jaboatão dos Guararapes, que representa 186 trabalhadores, Sandoval Berto contou ao JC que, durante o protesto, o Governo convidou os representantes do setor para negociar os termos no Palácio Campo das Princesas. Uma das queixas dos comerciantes é justamente a falta de definições do Estado em relação à retomada. Na última sexta-feira (14), a Secretaria da Casa Civil disse que informaria até esta terça-feira (18) "os critérios e formas de atuação para a reabertura". A promessa não foi cumprida.

O presidente da Associação dos Barraqueiros da Orla de Boa Viagem, Severino da Silva, falou que o grupo vem discutindo os protocolos com o Governo. "Eles concordaram com a gente, sobre o distanciamento de 1,5 metro, sobre ter álcool em gel, material higienizado, só atender banhista que vir com máscara", citou.

Os trabalhadores também vêm em tratativa com a Prefeitura do Recife sobre o assunto, segundo ele. Na última quinta-feira (13), tiveram reunião com as secretarias de Mobilidade e de Turismo. "Ficou tudo definido (os protocolos), mas até agora não deram resposta."

A reclamação principal do segmento é sobre terem ficado para trás no Plano de Convivência com a Covid-19. "Todos os setores reabriram, avançaram, inclusive bares e restaurantes já têm música ao vivo. Como a gente pode não voltar, se todo mundo voltou?", questionou Severino. A entidade representa 478 comerciantes no Recife, 70% dos quais são microempreendedores.

>> "Meus netos me perguntam se tem almoço, vou na cozinha e choro", desabafa comerciante em protesto

Sem trabalhar há cinco meses, os comerciantes sentem de perto o estrago da pandemia na vida pessoal. Luís Marcos Silva, de 44 anos, trabalha na praia de Boa Viagem há 36, desde que tinha 8 anos de idade. Hoje é MEI e vende de bebidas na orla. No entanto, com o negócio paralisado, ele sustenta a família com os R$ 600 do auxílio emergencial. "Não é suficiente pra quem mora de aluguel e vive com três crianças. Minha mulher não recebeu (o auxílio). Estou devendo quase cinco meses de aluguel, pagando só um pedaço", revelou.

WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
Grupo fechou Avenida Boa Viagem na altura do quiosque 38 - WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
Grupo fechou Avenida Boa Viagem na altura do quiosque 38 - WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
Grupo fechou Avenida Boa Viagem na altura do quiosque 38 - WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
Grupo fechou Avenida Boa Viagem na altura do quiosque 38 - WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
WELINGTON LIMA/JC IMAGEM
Grupo fechou Avenida Boa Viagem na altura do quiosque 38 - WELINGTON LIMA/JC IMAGEM

"É muito frustrante. A gente só tem o nosso ganha pão daqui da praia. Sempre a gente tirava nossa bolacha e levava pra casa. Hoje, com tudo aberto, só quem não pode trabalhar somos nós; é uma coisa muito triste e revoltante."

Enquanto isso, quem não recebeu o benefício do Governo Federal está em situação ainda mais grave. "Eu estou passando fome. Eu e minha família. Estou vivendo de um prato de feijão e arroz que minha mãe me dá. Praticamente esmola", revelou Genilson Ferreira da Silva, 47, comerciante há 10 em Boa Viagem.

Ele contou que teve o auxílio emergencial negado. "Isso é para mim é humilhante. Eu tenho dois filhos, um de 4 e um de 14. Eles pedem um 'danoninho', um biscoito, eu olho para eles e começo a chorar porque não tenho condições. Ficamos chorando eu e minha esposa", falou. "Já está tudo lotado - metrô, ônibus, shopping - e a gente aqui não pode trabalhar. Estão enganando a gente, porque marcam uma data e nada. A gente não aguenta mais."

Após o protesto, alguns manifestantes se reuniram com o Governo de Pernambuco. Os detalhes da reunião serão repassados pelo órgão por meio de uma entrevista coletiva realizada ainda na tarde desta quinta. 

Respostas

O Governo do Estado respondeu, por nota, que a Empresa de Turismo de Pernambuco "está finalizando os últimos ajustes do protocolo específico que vai contemplar as diversas peculiaridades do segmento, além do período oficial da retomada". No texto, cita também que o Gabinete de Enfrentamento ao Coronavírus, analisa constantemente os indicadores de saúde para deliberação sobre a flexibilização dos protocolos de segurança e higiene.

Já a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes falou que a secretaria Executiva de Turismo, Cultura, Esportes e Lazer do Jaboatão dos Guararapes recebeu, uma comissão formada por representantes dos comerciantes da orla do município na sexta (14). Na ocasião, disse, o grupo foi informado "sobre o protocolo que vai ser adotado pela prefeitura quando da publicação do decreto estadual autorizando a retomada das atividades comerciais do setor. A secretaria reforça, ainda, que durante a pandemia tem realizado a distribuição de cestas básicas aos comerciantes como forma de apoiá-los diante da suspensão das atividades impostas pelos protocolos de segurança contra o novo coronavírus."

A reportagem também buscou a Prefeitura do Recife. O espaço está aberto para pronunciamento.

Porto de Galinhas

Na Praia de Porto de Galinhas, em Ipojuca, Litoral Sul de Pernambuco, comerciantes montaram barracas e ambulantes circularam na orla nessa quarta (19) e nesta quinta (20), mesmo com a proibição do governo estadual. A movimentação pêde ser notada por imagens registradas e divulgadas por comerciantes e frequentadores do balneário, considerado um dos principais cartões-postais do Estado.  

À reportagem, a Prefeitura de Ipojuca demonstrou preocupação pela gestão estadual ainda não ter concluído o protocolo para a retomada da categoria, conforme foi declarado ao JC pelo próprio Governo de Pernambuco, e defende que seus índices epidemiológicos justificam retorno das atividades.

O município informou que notificou as associações das duas categorias por infringirem o decreto estadual, e que enviou ofício ao Ministério Público, comarca de Ipojuca, solicitando que o órgão ajudasse na intermediação entre as categorias e o Governo do Estado. A gestão afirmou, também, que entregou ao Estado, desde o dia 03 de junho, o protocolo municipal de retomada das atividades nas praias, feito em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e que enviou ofício ao governador Paulo Câmara pedindo a liberação do protocolo municipal desde o dia 15 de julho, mas não obteve resposta.

Comentários

Últimas notícias